Em mais um lance de puxa-saquismo explícito, Marcelo Crivella gravou
mensagem de apoio a Bolsonaro, dizendo que as manifestações convocadas pela
extrema direita para derrubar o Congresso e o STF nada têm de mais. Crivella
disse que Bolsonaro, coitado, sofre perseguição da imprensa. E é "cria do
Congresso". (Isso é verdade: um bebê mandrião nos seus 26 anos de
legislatura).
Crivella também é cria, mas não só do Congresso como da
Igreja Universal. Entrou na política elegendo-se senador em 2002. Reeleito em
2010, nas duas vezes valeu-se da influência dos evangélicos. Em 2012, num caso
típico de toma lá, dá cá entre governo e Parlamento, pegou uma boquinha como
ministro da Pesca, nomeado por
Dilma Rousseff, do PT, partido do qual hoje quer distância como o diabo da
cruz.
Seu deus atual é outro. De olho na votação que Bolsonaro
obteve no Rio —ganhou em todos os bairros, só perdendo em Laranjeiras—,
Crivella tem se agarrado ao presidente. Às vezes literalmente: em fevereiro, os
dois dançaram juntinhos, ao som de música gospel, na festa de comemoração dos
40 anos da Igreja Internacional da Graça de Deus.
Sentindo-se pressionado pelo projeto de poder do tio, o
pastor-mor Edir Macedo, o prefeito insiste na reeleição, apesar de sua
administração ser cantada em verso e prosa como a pior da história da cidade.
Além dos infortúnios com saúde, educação, transporte e falta
de investimento na prevenção de enchentes, há o caos urbano: as areias das
praias são um mar de detritos, camelôs invadem até os trilhos do VLT, obras de
arte pública são vítimas de pichadores e de furtos —o último e mais sensacional
deles o da estátua de dona Rosa da Fonseca, mãe do marechal Deodoro, uma peça
de 400 quilos e dois metros de altura que sumiu do monumento ao proclamador da
República. Dizem que a mãe do marechal virou alegoria de blocos de sujos.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de
"Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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