Há pouco mais de um ano, o Conselho Federal de Medicina
(CFM) baixou uma resolução regulamentando a telemedicina. A norma foi tão
atacada pelos profissionais, que temiam ser “uberizados”, que o CFM optou por
revogá-la dias depois. Isso significa que, pelas regras hoje vigentes, realizar
consultas à distância pode configurar, em muitas situações, uma infração ética.
O problema é que agora enfrentamos um surto epidêmico de covid-19, no qual a
telemedicina teria um papel valioso a desempenhar.
A covid-19 deverá pôr muita pressão sobre os sistemas de
saúde de vários países. O que mais chama a atenção nessa nova moléstia é a
forma desigual com que ela afeta diferentes grupos etários. Um estudo chinês
com 72 mil pacientes estimou uma taxa de mortalidade de 0,2% para aqueles com
menos de 39 anos, mas que vai a 8% para a população que tem entre 70 e 79 anos
e chega a impressionantes 14,8% para os com mais de 80.
Diante desses números, o último lugar para o qual se deve
levar um idoso que ainda não tenha contraído a covid-19 é um pronto-socorro
apinhado de portadores do vírus Sars-Cov-2. O risco é tão grande que a
recomendação técnica é a de só procurar serviços de saúde em casos graves. Mas
como saber se um caso é grave?
Aqui há duas opções. Temos algoritmos genéricos do tipo “só
vá ao hospital se tiver febre persistente e desconforto respiratório”. Na
maioria dos casos, eles funcionam bem. Mas, especialmente para os mais
vulneráveis, passar por uma consulta remota pode fazer toda a diferença.
É provável que ainda tenhamos de esperar o 5G para que uma
telemedicina indistinguível da consulta presencial se viabilize. Mas, enquanto
a tecnologia não chega, deveríamos pelo menos instalar “hot lines” com médicos
na ponta para que as pessoas fiquem mais tranquilas em relação à decisão de não
ir para o hospital, além, é claro, de “descriminalizar” as teleconsultas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário