A intenção não foi essa, mas ao sair em socorro do deputado
Eduardo Bolsonaro que atacou o governo da China e chamou o coronavírus de
“vírus chinês”, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, tatuou
na testa do Zero Três um apelido do qual ele jamais se livrará – Eduardo
Bananinha.
Se o deputado, segundo Mourão, não se chamasse Eduardo
Bolsonaro, mas sim Eduardo Bananinha, as relações do Brasil com a China
estariam cem por cento. Mas por carregar o sobrenome do pai, ele desatou uma
crise diplomática entre os dois países que está longe de terminar. Mourão pediu
desculpas ao governo chinês.
Pequim ainda não respondeu se as desculpas de Mourão serão
aceitas. A mais recente nota da embaixada da China no Brasil, distribuída ontem
à noite, foi mais dura do que a anterior e renovou a cobrança para que Eduardo
peça desculpas e apague os desaforos que escreveu na sua conta no Twitter.
O povo chinês é o único que tem sua história de milênios
escrita à medida que era construída. Hoje, se diria: em tempo real. Seus
governantes não só a conhecem bem como podem consultá-la a qualquer momento.
Como reagiu a dinastia A ou B em tal situação? Quais foram mesmo os efeitos do
“milênio perdido”?
Sem que tivesse ainda a bomba atômica, a China de Mao
Tse-Tung foi capaz de encarar ao mesmo tempo a União Soviética e os Estados
Unidos, as potenciais nucleares à época. É o país mais populoso e antigo do
mundo. No final do século XIX, seu PIB era superior à soma do PIB da Europa com
o PIB dos Estados Unidos.
Pois foi com essa gente que Bananinha resolveu brigar. Se
ele tivesse lido o livro “Sobre a China”, escrito por Henry Kissinger,
ex-secretário de Estado americano e o principal responsável pela aproximação
entre os Estados Unidos e a China, é possível que não fizesse o que fez. Mas
Bananinha nunca ouviu falar de Kissinger.
Quando cotado pelo pai para ser embaixador do Brasil em
Washington, ele fez um curso relâmpago sobre diplomacia para responder à
sabatina no Senado. Ouviu falar pela primeira vez do Barão do Rio Branco, de
Oswaldo Aranha, da anexação do Acre, essas coisas básicas. Mas, sobre a China,
necas de pitibiriba.
A China não estava no seu radar. De resto, Bananinha gosta
de viajar pelo mundo como turista, interessado nos cartões postais de cada
lugar e indo às compras. Cultura nunca foi seu forte. Formado em Direito, fez
concurso para escrivão da Polícia Federal e passou. Era mais fácil do que o
concurso para investigador ou delegado.
Quando adolescente, seus amigos o chamavam de Loide, uma
referência ao filme “Debi & Loide – Dois idiotas em apuros”. Gostava de
namorar e de surfar, de acordo com seu perfil publicado na mais recente edição
da revista Piauí. E de fumar o que o ex-presidente Bill Clinton fumou uma vez,
mas sem tragar.
Mantinha distância da política. Até que seu pai decidiu que
ele deveria disputar um mandato de deputado federal em São Paulo. Ordem dada,
missão cumprida. Elegeu-se e se reelegeu no rastro da vitória do pai em 2018.
Entrou na Câmara como um liberal. À procura de um papel, virou um extremista de
direita.
Como pai, não gosta de ler livros. Informa-se nas redes
sociais. Repete o que está no Google e o que o autoproclamado filósofo Olavo de
Carvalho lhe ensina. Foi ele que descobriu Olavo para sua família. Embora
disponha de um exemplar do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser
um idiota”, de Olavo, nunca o leu.
Certamente, Eduardo não se deixará abater pela alcunha de
Bananinha. Na vida real, é um boa praça travestido de guerreiro pintado para a
guerra contra o comunismo e à cata do reconhecimento do pai. Empenha-se para parecer
cada vez mais com ele e – quem sabe? – sucedê-lo como chefe político da
família.
Estar no epicentro de uma crise que preocupa o presidente da
República não subtrairá a Bananinha um minuto de sono. O brilho dos holofotes é
o que fascina o único dos Bolsonaro que sonhou um dia em ser modelo. Ele ainda
guarda suas primeiras fotos como aspirante a modelo. Se mostradas, fariam
enorme sucesso.
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