Na emergência do combate ao novo coronavírus, o foco
primordial de qualquer governo razoável é a preservação de vidas. Com a rápida
disseminação da epidemia, há grande risco de esgotamento dos sistemas de saúde
e consequente aumento da letalidade.
Estratégias como o distanciamento social se mostram
necessárias para reduzir o contágio e evitar a superlotação de hospitais e
UTIs. Daí as medidas de restrição à circulação de pessoas adotadas por todos os
países, em graus variados.
Onde o crescimento da epidemia se mostrou crítico, como em
parte da China, de início, na Itália e em outros países da Europa, as medidas
tornaram-se cada vez mais draconianas, chegando à parada quase completa da
atividade econômica e a quarentenas generalizadas.
Outros países conseguiram enfrentar a Covid-19 com
contenções mais brandas, desde que adotadas em tempo adequado. Coreia do Sul,
Japão e Singapura tiveram sucesso, até aqui, com a estratégia de testagem em
massa para a presença do vírus. Conseguiram, assim, adotar restrições
direcionadas, com menor impacto na economia.
Conforme vão se acumulando globalmente os sacrifícios,
intensifica-se o debate em torno dos custos da paralisia geral da produção e do
comércio. Por algumas semanas, governos podem bancar parte dos prejuízos, ao
transferir renda para empresas e trabalhadores.
Quanto mais longos forem os confinamentos, porém, o preço a
pagar tende a tornar-se excessivo —não somente para os cofres públicos mas
sobretudo para a população, que enfrentará de privações materiais a distúrbios
psicológicos.
Os Estados nacionais podem e devem endividar-se agora para
aplacar os impactos de recessões, mas cumpre lembrar que toda a sociedade terá
de arcar com o doloroso ajuste orçamentário posterior. Os estratos mais
carentes já sofrem mais em moradias precárias, sob condições sanitárias
insalubres.
Trata-se de discussão complexa e necessária —infelizmente
aviltada no Brasil pela fanfarronice tresloucada do presidente Jair Bolsonaro.
O momento demanda precaução máxima diante de um vírus ainda
pouco conhecido, para o qual não existe vacina nem tratamento consolidado. É
temerário afrouxar as restrições, como já começam a fazer alguns estados, sem
que se saiba como proteger as pessoas, em particular as que se encontram em
maior situação de risco.
Esse plano de saída, que no estado de São Paulo formalmente
começaria após 7 de abril, precisa ser mais bem detalhado, aproveitando a
experiência internacional.
A coordenação de autoridades e estudiosos é fundamental para
que se minimizem sacrifícios. A preocupação legítima com emprego e renda não
pode ter como consequência a disparada da epidemia.
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