A epidemia de coronavírus é um tsunami invisível que varre o
mundo. No momento, seu epicentro é Nova York, nos Estados Unidos, o que obrigou
o presidente Donald Trump a mudar completamente o discurso no domingo, quando
pediu para a população ficar em casa até 30 de abril. Trump vinha defendendo o
afrouxamento das medidas de isolamento e chegou a declarar no sábado que uma
quarentena não seria necessária em Nova York, New Jersey e Connecticut. Mudou
de ideia no dia seguinte, quando admitiu que o pico da epidemia será daqui a 15
dias. Já são mais de 2 mil mortos e mais de 100 mil casos confirmados, segundo
levantamento da Universidade Johns Hopkins, na economia mais poderosa do mundo.
O sistema de saúde de Nova York está à beira do colapso.
Ao contrário de Trump, aqui, no Brasil, o presidente Jair
Bolsonaro aproveitou o domingo para contestar a política de isolamento social e
deu um rolé pelo comércio do Sudoeste, de Ceilândia e de Taguatinga, defendendo
que as pessoas precisam trabalhar para sobreviver. Depois do périplo,
devidamente registrado no Twitter — que apagou duas de suas postagens por
colidirem com a orientação das autoridades de saúde pública —, Bolsonaro disse
que era preciso enfrentar a situaçao como homem e não como moleque, porque as
pessoas um dia vão mesmo morrer. Não se sabe a quem ele se referia, mas o fato
é que desautorizou a orientaçao do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, o que aumentou as especulações de que ele seria demitido.
Não foi o que aconteceu, porém, apesar de Mandetta estar
visivelmente constrangido na entrevista coletiva concedida no final da tarde de
ontem pelo comitê de crise do Palácio do Planalto, que coordena as ações do
governo contra a epidemia, sob comando do ministro-chefe da Casa Civil, general
Walter Souza Braga Netto. Quando Mandetta foi indagado pelos jornalistas sobre
as divergências com Bolsonaro e se sairia do governo, foi interrompiodo por
Braga Netto, que matou a pergunta no peito e respondeu: “Está fora de
cogitação”, “Não existe essa ideia”. Também participaram da entrevista os
ministros Tarcísio Gomes (Infraestrutura), Onyx Lorenzoni (Cidadania) e André
Mendonça (Advocacia Geral da União), além de um representante do Ministério da
Defesa.
Na sua entrevista, Mandetta desconversou sobre o assunto e
reiterou que a orientaçao do Ministério é focada no combate à epidemia, em
termos técnicos e científicos. Justificou a decisão de mudar o formato das
avaliaçoes diárias, que agora serão feitas por todos os ministros, não sob seu
comando, mas o de Braga Netto, com o argumento de que a pandemia transbordou a
esfera de sua pasta e exige engajamento de todo o governo, o que é verdadeiro.
Bolsonaro vem defendendo o relaxamento das medidas de isolamento adotadas nos
estados e a retomada da atividade econômica, com a reabertura do comércio e
volta dos estudantes às escolas. As recomendações de especialistas, da
Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Mandetta são de que o isolamento
é necessário para evitar a expansão da pandemia.
Tensões
Ontem, o diretor executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, fez nova advertência quanto à expansão da pandemia. Disse que o coronavírus ultrapassou as ruas e está sendo levada para “dentro das famílias”, o que reforça a necessidade de isolamento social, sobretudo onde há transmissão comunitária e faltam testes, como é o caso do Brasil. “O ideal é que a quarentena ocorra em um lugar que não seja a casa [do infectado], porque esse doente pode infectar sua família. Mas isso não é sempre possível”, disse. No Brasil, já houve 159 mortes, com 4.579 casos confirmados, uma taxa de letalidade de 3,5%. A epidemia ainda está concentrada no Sudeste, com 2.507 casos, 55% do total. São Paulo é o epicentro, com 1.451 casos. O aumento do número de mortos de ontem para hoje no estado foi de 17%, sendo 7,9% o de casos.
Ontem, o diretor executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, fez nova advertência quanto à expansão da pandemia. Disse que o coronavírus ultrapassou as ruas e está sendo levada para “dentro das famílias”, o que reforça a necessidade de isolamento social, sobretudo onde há transmissão comunitária e faltam testes, como é o caso do Brasil. “O ideal é que a quarentena ocorra em um lugar que não seja a casa [do infectado], porque esse doente pode infectar sua família. Mas isso não é sempre possível”, disse. No Brasil, já houve 159 mortes, com 4.579 casos confirmados, uma taxa de letalidade de 3,5%. A epidemia ainda está concentrada no Sudeste, com 2.507 casos, 55% do total. São Paulo é o epicentro, com 1.451 casos. O aumento do número de mortos de ontem para hoje no estado foi de 17%, sendo 7,9% o de casos.
Mesmo que a pandemia avance, Bolsonaro mantém seu litígio
aberto com os governadores, prefeitos e autoridades de saúde pública, que
defendem a permanência de Mandetta no cargo. O ex-ministro da Cidadania Osmar
Terra(MDB-RS), que é deputado federal e médico, se movimenta para substituir
Mandetta e faz coro com as teses de Bolsonaro. As relações de Mandetta com
Bolsonaro vão de mal a pior e somente não houve uma ruptura porque o ministro
já avisou que não pede demissão. Demiti-lo agora seria a implosão da equipe de
sanitaristas do ministério e uma porta aberta para a articulação do impeachment
do Bolsonaro, por crimes de responsabilidade. O Congresso está fazendo seu
dever de casa, mas cobra um comportamento mais responsável do presidente da
República.
Ontem, o Senado aprovou o chamado “corona voucher”, a ajuda
de R$ 600,00 para os trabalhadores informais sem atividade, que se soma ao
pacote de medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Economia, Paulo
Guedes. É fundamental para garantir uma renda básica aos que ficaram sem
nenhuma outra fonte e evitar uma situação de caos social. O presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, articula a aprovação do que está sendo chamado de
“orçamento de guerra”, as medidas necessárias para o país atravessar a pandemia
sem um cenário de tragédia social e reativar a economia logo depois. De certa
forma, o foco na pandemia e nessas medidas econômicas é um elemento
estabilizador do processo, em meio às tensões criadas por Bolsonaro, que ameçam
transformar a pandemia num tsunami político.
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