Bolsonaro não cuida de informais ou pequena empresa e não
tem noção da emergência
Imaginem que um restaurante perca metade do faturamento no
paradão da epidemia. Que a loja do shopping feche. Pior ainda, que centenas de
milhares de empregados domésticos, “intermitentes” ou não, informais em geral,
fiquem sem trabalho. Que milhões de empregados da “nova economia” do bico
fiquem sem faturar, na rua da amargura e sem proteção social.
Não se ouviu providência do Ministério da Economia a
respeito. Mas o governo disse que precisa aprovar logo a autorização para
privatizar a Eletrobras, sem o que não entrarão R$ 16 bilhões previstos no
Orçamento. Sem esse dinheiro, teria de suspender (“contingenciar”) ainda mais
despesas. Mas quem, se e quando, ó Senhor, vai comprar a Eletrobras neste
colapso financeiro? É conversa fiada.
Sim, manter um programa de arrumação da economia pode
ajudar. Aprovar a emenda constitucional do arrochão no serviço público era
prioridade desde o ano passado para este governo que pretende manter o teto de
gastos —trata-se de medidas que na certa vão implicar corte abrupto de
despesas, em especial com o funcionalismo, assim que aprovadas.
Mas: 1) o governo faz baderna política, inclusive convocando
marchas infecciosas contra o Congresso, e atrasou tudo; 2) o efeito do arrochão
é, de imediato, “contracionista” (tira dinheiro da economia); 3) em catástrofes
como agora, as leis brasileiras preveem maneiras de se gastar mais,
provisórias.
ESTAMOS EM EMERGÊNCIA. Precisamos cuidar dos feridos,
equipar hospital, comprar ventilador pulmonar para UTIs, máscaras para o
pessoal da saúde. Precisamos alimentar os famintos que ficarão ao léu sem
emprego, bico ou renda; precisamos evitar a falência dos milhões de pequenos
negócios que empregam o grosso da gente.
O governo disse que vai adiar a cobrança de alguns impostos.
Para informais, tanto faz. Para os negócios atropelados pelo paradão da
epidemia, seria um alívio temporário. Sem faturamento, eles terão uma dívida
adiada, sem caixa para cobrir.
Este texto começou tratando de restaurante. É motivo de
preocupação na crise? É um exemplo de como não pensamos em como a economia real
roda. Apenas na cidade de São Paulo, os serviços de alimentação empregam cerca
de 373 mil pessoas, 6% dos empregados da cidade, segundo dados da prefeitura.
Pense então em salões de beleza, barbeiros, pequenas lojas.
O governo conversa com as empresas aéreas, de fato problema
grave. Mas o que vai fazer com quem voa baixo, os pequenos e micro negócios,
que nem dinheiro no banco conseguem pegar a um custo que não seja extorsivo?
O Banco Central liberou dinheiro para os bancos, reservas
que costumam ficar “presas” no caixa do BC. Em tese, assim teriam fundos para
emprestar mais, renegociar dívidas, adiar cobranças.
Como diz o clichê sobre o assunto, a gente leva o cavalo até
o rio, mas não pode obrigá-lo a beber. Os bancos vão emprestar? Se não houver
outros meios de evitar tombo feio da economia, vão adotar alguma retranca no
crédito. Por falar nisso, os bancos já têm “sobras” para emprestar. O dinheiro
não sai porque é caro ou porque o banco julga que quem está pedindo empréstimo
não merece crédito.
Bancos dizem que vão prorrogar o prazo de pagamento de
dívidas. A ver. A que taxas de juros? A depender do tombo da economia e da
taxa, a corda no pescoço fica adiada para mais tarde. No Natal?
Antecipar o 13° dos aposentados e pensionistas, além do
abono salarial, medida anunciada pelo governo, é sensato. O problema é de quem
vai ficar sem ganhar nada. O problema são os miseráveis que estão na fila do
Bolsa Família, com a porta fechada na cara pelo governo, talvez 1 milhão de
famílias. E aí, Guedes?
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