A farda perde seu encanto por Bolsonaro
Mau militar como o definiu no passado Ernesto Geisel, o
terceiro general-presidente da ditadura de 64. Mau esposo como ex-mulheres dele
admitiram. Mau chefe de família, a julgar pelas relações conflituosas com os
filhos e dos filhos entre si. Mau deputado, como registram os anais da Câmara.
Como Jair Messias Bolsonaro, chamado por seus devotos
irascíveis de Mito, poderia vir a ser um bom presidente da República? Sua fala
à Nação, ontem à noite, confirmou mais uma vez a antiga lição que de onde menos
se espera daí é justamente que não sai nada capaz de produzir algum alento ou
de reverter expectativas.
Bolsonaro é o que é e ponto. Na véspera, ao reunir-se com
governadores do Norte e Nordeste, anunciara uma ajuda de quase 90 bilhões de
reais para que os Estados enfrentem a pandemia do coronavírus. Defendeu a
salvação de vidas, embora tivesse suspendido o pagamento de salários a
trabalhadores carentes.
Só recuou da medida quando começou a apanhar nas redes
sociais. Ordenou ao ministro Paulo Guedes, da Economia, que tirasse seu nome
daquela enrascada. Mais tarde, Guedes diria que tudo não passou de um “erro
digital”. Quando alguns dos seus assessores pensaram que ele poderia enveredar
por um bom caminho…
Foram surpreendidos outra vez. Aconselhado por seus três
belicosos filhos e outros garotos expoentes do “gabinete do ódio”, quase às
escondidas dos seus ministros, Bolsonaro gravou um pronunciamento que, de tão
desastroso, foi recepcionado por mais um panelaço de norte ao sul do país, o
oitavo.
Os antigos samurais cometiam haraquiri para demonstrar sua
coragem. Pilotos japoneses da 2ª Guerra Mundial se lançavam com seus aviões
carregados de explosivos sobre alvos inimigos para provar sua fidelidade ao
imperador. Para nada, Bolsonaro cometeu suicídio político em cadeia nacional de
rádio e televisão.
Propôs a reabertura do comércio, em parte fechado para
impedir a circulação de pessoas. Criticou o fechamento das escolas e outras
providências restritivas tomadas por prefeitos e governadores para esvaziar as
ruas. Atacou a imprensa, culpando-a por alimentar a “histeria”. E de novo
referiu-se ao vírus como uma “gripezinha”.
E tudo isso por quê? O “gabinete do ódio” conferiu que a
defesa do presidente e do governo está em baixa nas redes sociais e fora delas.
É o que atestam as pesquisas conhecidas até aqui. Então Bolsonaro decidiu
municiar seus seguidores com argumentos que estanquem a sangria na sua base de
apoio que se esfarela.
O cordato ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu
mandando que ele calassea se não quiser apressar sua saída do cargo. O fiel
aliado de Bolsonaro, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, em quarentena desde
que testou positivo para o vírus, afirmou que o país “precisa de uma liderança
responsável”.
Dito de outra maneira: segundo Alcolumbre, Bolsonaro
comporta-se como um irresponsável. Bravata do senador que deve a Bolsonaro a
função que ocupa? Pode ser. Mas não esqueça que um eventual impeachment
presidencial dependerá em grande parte de Alcolumbre e de Rodrigo Maia,
presidente da Câmara.
O ex-capitão afastado do Exército por indisciplina e conduta
antiética ainda teve o dissabor de ver suas palavras comparadas com as do
Comandante do Exército, o general Edson Leal Pujol, em mensagem à tropa. Pujol
pregou a união e elogiou os integrantes do sistema de saúde por seu exemplo de
coragem.
A retaguarda militar que Bolsonaro imagina dispor está cada
vez mais desencantada com ele. E a linha de frente das Forças Armadas, blindada
contra a tentação de uma aventura que possa destruir o Estado de Direito. A
galope, Bolsonaro torna-se irrelevante e perfeitamente dispensável. Que assuma
Mourão.
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