Por que acreditar que desta vez a ficha do presidente Jair
Bolsonaro começou de fato a cair? E o que isso significa? Que ele mudará seu
comportamento? Que a loucura dará lugar à sensatez? Que o líder desagregador
será substituído como por encanto pelo líder capaz de unir o país pelo menos no
momento da desgraça?
Está para se ver se será assim como desejam os que torcem
por ele, mas também pelos que aspiram um momento de trégua à medida que a
tormenta, o desespero e a dor das perdas se aproximam. Bem-aventurados os puros
de coração porque deles será o reino dos céus. Bem-aventurados os que têm
esperança.
A mais recente fala do trono de um homem que não nasceu para
ser presidente como ele mesmo disse, que não ambicionou o cargo durante 28 anos
como obscuro deputado federal que era, e que só foi à luta por ele para ajudar
as carreiras dos filhos e se aposentar em seguida, vale ser examinada pelo que
não conteve.
Temia-se que Bolsonaro aproveitasse a data para exaltar o
golpe militar de 64 que aniversariava – ele preferiu deixar para fazê-lo em
mensagem no Facebook. Nela, escreveu que não houve golpe, uma vez que o
primeiro general ditador foi eleito pelo Congresso. Esqueceu-se de dizer que
por um Congresso emasculado.
Bolsonaro não ordenou que os brasileiros voltassem às ruas
se não quisessem morrer de fome. Não voltou a pôr a Economia acima da vida como
vinha fazendo há mais de uma semana. Não insultou os governadores que divergem
dele (quase todos) nem agrediu a mídia como costuma fazer. Baixou o tom. Menos
mal.
Mas por birra, ou para não dar o braço a torcer, ou por
ignorância não recomendou aos que o escutaram: Fiquem em casa. Fiquem em casa.
Respeitem as regras do confinamento. Não circulem. Por favor, não ponham suas
vidas em risco. O vírus não ameaça só os idosos. Morrem pessoas de todas as
idades.
O que poderia ter acontecido se Bolsonaro dissesse o que o
país desejava ouvir? O que teria lhe custado? Até outro dia, o presidente do
México, o Bolsonaro de lá só que de esquerda, pedia para ser abraçado e beijado
e estimulava sua gente a ir às compras. Arrependeu-se. Não foi apedrejado por
isso. Trump, tampouco.
De que adianta Bolsonaro assumir o comando do gabinete da
crise se não for capaz de rever suas posições? Só para não perder o
protagonismo que o ministro da Saúde lhe subtraiu por sua exclusiva culpa? Só
por que na verdade continua agindo orientado por seus filhos e refém dos seus
devotos nas redes sociais?
A ser assim, a continuar assim, o flerte que ele ensaiou com
os brasileiros distraídos em bater panelas dará em nada por ser um flerte de
ocasião, por ser pura jogada de marketing, em suma, por ser tão confiável como
é qualquer notícia distribuída por seus filhos e endossada por ele. Gabinete do
ódio nada constrói.
Ontem foi o pior dos dias da luta até aqui contra o vírus,
dado ao elevado número de mortos e de doentes. Lá vem vindo a onda depois que o
mar secou. Alertada, a maioria dos banhistas procura locais altos e seguros.
Mas uma parte deles segue na praia sem entender o recuo do mar. O pior é que
haverá outras ondas.
Quanto ao chefe dos salva-vidas, esse a tudo observa,
impávido colosso. Calcula estar a salvo. Sabe nadar. E no passado foi um
formidável atleta de codinome Cavalão. Apesar disso, sua de medo de morrer na
praia. O desemprego retomou seu crescimento. A economia entrará em recessão. E
2022 é logo ali.
Nenhum comentário:
Postar um comentário