O número de mortes por Covid-19 no Brasil e em São Paulo
parecia crescer mais devagar até o começo da semana passada, por aí. Até então,
com todas as ressalvas de praxe, parecia haver uma despiora, como vinha
acontecendo em países grandes da Europa, no que diz respeito à redução do ritmo
do avanço do número de casos e mortes, considerados dias equivalentes de
duração da epidemia.
Desde a semana passada, embatucamos. O ritmo parou de diminuir.
O que houve? Há mais registros de casos e mortes porque há
mais testes ou notificações mais rápidas? Ou há um problema na contenção da
doença, programa que mal e mal parecia funcionar?
Como está claro, epidemiologistas e outros estudiosos da
doença estão com dificuldades ou indisposição de avançar opiniões, que dirá
análises ou projeções. Mas alguns deles dizem temer que a desordem no
distanciamento social possa ter abalado a tendência de despiora no ritmo de
avanço da doença. Mas esperariam mais uma semana, pelo menos, antes de assinar
o comentário.
As medições disponíveis de isolamento caíram, cidades
reabrem a atividade econômica ou jamais as fecharam de fato, há propaganda
federal contra o isolamento. Pessoas mais pobres, sem auxílio, procuram meios
de ganhar vida, as pessoas em geral começam a se cansar do isolamento e fogem.
Para piorar, ainda estamos muito longe de ter um sistema amplo e ágil de
rastreamento de doentes e possíveis contaminados.
Temos ainda problemas com os dados mais elementares. Não
sabemos quando as pessoas ficaram doentes (com sintomas) ou morreram. As
notificações diárias são de confirmações de casos que podem ter ocorrido faz
dias.
O problema vai, pois, muito além da subnotificação, que
sempre há e haverá. E subnotificação do quê? De infecções em geral, de doentes
leves, de casos hospitalares, de mortes? De resto, uma subnotificação mais ou
menos constante permite que se acompanhe o ritmo da progressão da doença,
embora não o nível do número de casos.
Há agora uma corrida para saber da subnotificação _é útil,
ajuda a pressionar os governos a fornecerem dados melhores. Vários dados
indicam subnotificação, mas não dizem muito mais do que isso.
No estado de São Paulo, o número geral de mortes em março de
2020 superou a média dos últimos quatro anos em 1.481. O número oficial de
mortes por Covid-19 naquele mês foi de 731, mas várias mortes ainda estavam
pendentes de confirmação ainda em abril (os dados de mortalidade de abril ainda
são imprestáveis, por vários motivos).
O que podemos concluir? Nada além do óbvio. Existem mais
casos, não se sabe bem quantos, quando e em que ritmo de notificação ou sub.
Além do risco do fetiche do número da subnotificação, falta
qualidade nos dados elementares da doença. Parece que o país se cansou de falar
no assunto, saiu de moda, embora o problema esteja explodindo. Ainda não temos
informação precisa de UTIs, ventiladores, testes, detalhamento da gravidade dos
casos e da evolução desses números.
Compramos mais, produzimos mais, temos mais equipamentos?
Deveria haver equipes supervisionando isso com precisão, de
modo a tentar evitar mais desgraça. Que essas informações não existam ou que os
governos se recusem a divulga-las, COMO TEM FEITO, é um escândalo que deveria
ser objeto de campanha, talvez campanha do Ministério Público.
É uma zorra criminosa.
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