Após demissão de Moro, generais manifestam ‘forte
preocupação’ com o futuro do governo
BRASÍLIA — Apesar da tentativa de demonstração de apoio ao
presidente Jair Bolsonaro, com a presença dos ministros no pronunciamento feito
após a demissão de Sergio Moro, os generais que são ministros e que despacham
dentro do Palácio do Planalto manifestaram a colegas de farda um sentimento de
“perda” e de “forte preocupação” com o futuro do governo de agora em diante. A
mensagem foi vocalizada especialmente pelo ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Antes da demissão de Moro nesta sexta-feira, Heleno já havia
feito movimentos para que o ex-juiz da Lava-Jato não deixasse o governo, com a
interpretação de que a gestão Bolsonaro acabaria se isso ocorresse. Teve êxito
uma vez, mas não duas.
Os ministros que também são generais — Heleno, do GSI; Braga
Netto, da Casa Civil; e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo — ouviram
de generais que estão no governo ou na ativa que a continuidade de apoio ao
governo Bolsonaro dependerá da permanência do trio dentro do Palácio do
Planalto. Este recado explica a tentativa de demonstração de apoio dos
ministros ao presidente.
Os ocupantes dos cargos na Esplanada dos Ministérios
compareceram em peso ao pronunciamento no fim da tarde, numa tentativa de
demonstrar unidade. Chamou a atenção a presença do ministro da Defesa, general
Fernando Azevendo e Silva, logo ao lado de Bolsonaro. O ministro da Defesa tem
ascendência hierárquica sobre os comandantes das três Forças Armadas. Sua
função no governo excede a burocracia do cargo. Ele é, hoje, um dos principais
conselheiros do presidente.
Um entendimento entre militares de alta patente — tanto
integrantes do governo quanto integrantes das cúpulas das Forças — é que a
demissão de Moro não se compara a uma outra rumorosa demissão, a do ministro da
Saúde, Luiz Henrique Mandetta. No caso de Mandetta, demitido em meio à pandemia
do novo coronavírus, que já matou 3.670 brasileiros até agora, generais
enxergaram uma indisciplina, uma quebra de hierarquia, à medida que o então
ministro confrontava o presidente. Com Moro, que pediu demissão do Ministério
da Justiça e Segurança Pública nesta sexta-feira, alegando interferência de
Bolsonaro na Polícia Federal (PF), não existe essa impressão.
— Moro é uma figura muito emblemática. Tem projeção no país.
Sempre vou aplaudi-lo pelo que ele fez. Então, até quem torce contra não deve
estar gostando do que se viu hoje — resume um general com assento no governo,
sob a condição de anonimato.
Os militares que despacham no Planalto, apesar do esforço
pela imagem de unidade, não disfarçavam o sentimento de “perda”, “tristeza” e
“preocupação” nas mensagens disparadas a colegas da caserna. O entendimento é
que a saída de Moro ocorre num momento que já é de grave crise sanitária e
econômica. Eles entendem que o que ocorreu nesta sexta, inclusive, terá
impactos decisivos para a própria crise do novo coronavírus.
— Não deveríamos perder nem A nem B — diz um general, em
referência a Bolsonaro e Moro.
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