quarta-feira, 29 de abril de 2020

PILARES DESMORONAM E BOLSONARO SE ENTREGA A ESTELIONATO ELEITORAL

Fernando Canzian, Folha de S.Paulo

Como era de se esperar desde que Jair Bolsonaro começou a abrir a boca e a agir em público após a campanha e a facada de 2018, sua administração à frente do Brasil está se esfacelando.
Os dois pilares de seu governo que atraíram a confiança de muitos empresários e eleitores indignados com as inconsistências econômicas e a corrupção nos governos Dilma Rouseff e Lula agora desmoronam, um atrás do outro.
O primeiro a cair foi parte o projeto liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sequer participou na quarta (22) do lançamento do PAC de Bolsonaro.
Com o projeto, o presidente reedita algumas das ideias desenvolvimentistas de Dilma e retoma a participação do Estado em obras públicas que nunca terminam.
Segundo o Tribunal de Contas da União, o Brasil tem pelo menos 12 mil obras paradas, ou cerca de 30% de todos os empreendimentos espalhados pelo país. Pelo menos 2,8 mil delas são do Programa de Aceleração do Crescimento de Dilma Rousseff.
Desesperado e pressentindo o tamanho da recessão econômica que se aproxima, Bolsonaro se move para tentar gastar um dinheiro público que não tem e rasga a fantasia do liberalismo com que tentava esconder suas verdadeiras convicções.
Alijado e ausente, não surpreenderá se Paulo Guedes também se movimentar para abandonar de vez o barco de Bolsonaro, destruindo o fiapo de confiança que as classes empresariais ainda depositam nesse governo.
Já a eventual saída de Sergio Moro da Justiça vai escancarar o bloqueio que a família Bolsonaro opera contra investigações perigosas, como a da “rachadinha" do senador Flávio no Rio e sobre as suspeitas de "fake news" de Carlos e Eduardo.
Ela minará também muito da sustentação popular de Bolsonaro, sobretudo entre aqueles brasileiros mais barulhentos que gostam de se vestir em verde e amarelo para sair às ruas condenando o PT e os políticos tradicionais do Brasil.
Mas é exatamente à velha guarda notória em casos ruidosos de Arthur Lira (Progressistas-AL), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Waldemar da Costa Neto (PL-SP), entre outros, que Bolsonaro recorre agora em busca de sustentação —antes que os efeitos da recessão e das mortes pela Covid-19 caiam de uma vez sobre seu governo.
Para quem condenava tudo o que está aí e a velha política, nada mais ultrapassado do que correr amedrontado para o colo do fisiológico centrão a fim de tentar salvar a própria pele.
Bolsonaro agora não passa de um estelionato eleitoral.
Fernando Canzian
Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.
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