Jair Bolsonaro conspira à luz do dia. No domingo, o
presidente usou mais um símbolo nacional como palanque para o golpismo. Na
rampa do Planalto, confraternizou com extremistas que atacavam a democracia e
agrediam jornalistas no exercício da profissão.
Irritado com decisões do Supremo, o capitão vociferou: “Não
vamos admitir mais interferência. Deixar bem claro isso aí. Acabou a
paciência”. No mesmo tom, ele prosseguiu: “Chegamos no limite, não tem mais
conversa”. Só faltou mandar o cabo e o soldado cercarem o tribunal do outro
lado da praça.
A ameaça do uso da força é cada vez mais explícita nas falas
presidenciais. Diante de sua minoria barulhenta, Bolsonaro disse que as Forças
Armadas “estão do nosso lado”. Os militares sabiam quem ele era quando
embarcaram sorridentes no novo governo. Agora são arrastados para o centro de
uma turbulência política prestes a virar crise institucional.
Em nota, o ministro da Defesa afirmou que as Forças “estarão
sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”. O
esclarecimento seria desnecessário se o país vivesse tempos normais. A tensão
tende a se agravar nos próximos dias, à medida que avançam as investigações
sobre o clã presidencial.
Bolsonaro tem pressa. Ontem ele nomeou o novo diretor da
Polícia Federal, que assume com a missão de proteger pai e filhos. A operação
incluiu edição extra do Diário Oficial e posse relâmpago a portas fechadas.
Cenas de um governo acuado, que vê na radicalização a única saída para se
segurar no poder.
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Grandes artistas têm o dom de resumir o espírito do tempo.
Em artigo no GLOBO, Aldir Blanc narrou uma conversa com seu velho parceiro:
“Recebi um telefonema do João Bosco. Triste, João falou
sobre o ódio alucinado que grassa no país: ‘Clamam por sangue, querem enforcar,
pedem a volta da ditadura, só um lado é preso. E há um ódio em tudo’. Sinto a
mesma coisa”.
Poderia ter sido ontem, mas foi em 2015.
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