Foi um longo fim de semana para Jair Bolsonaro. Imerso na
realidade paralela, à distância do país devastado por um vírus que já abateu
mais de sete mil vidas, entreteve-se no seu jogo predileto: envolver as Forças
Armadas na sua campanha para reeleição em 2022. É raro caso de governante
empenhado num pandemônio político em plena pandemia.
No sábado, no Palácio da Alvorada, extravasou sua ira com a
suposta conspiração para impedi-lo de governar. Citou Sergio Moro, João Doria,
Congresso, STF e governadores. Lula e PT estão fora da sua agenda. Bolsonaro,
agora, racha a centro direita. Briga com o governador paulista, a quem vê como
adversário eleitoral.
No domingo ensolarado comandou nova manifestação, financiada
por empresários amigos, em produção esmerada com faixas de apelo à “intervenção
militar com Bolsonaro”. A claque, outra vez, pedia aos generais um golpe em
favor do ex-capitão, afastado do Exército por indisciplina, há quase quatro
décadas.
O cenário verde-amarelo ficou relevante porque pesquisas
mostram supremacia da imprensa sobre as redes sociais em credibilidade — efeito
da pandemia. “Acabou a paciência”, disse. “As Forças Armadas também estão ao
nosso lado… Chegamos no limite.”
Varou a madrugada de ontem com o plano de declarar
desobediência ao Supremo. Renomearia Alexandre Ramagem para o comando da
Polícia Federal. A indicação havia sido suspensa pelo STF, por conflito de
interesses — é amigo de Bolsonaro, cujos filhos estão sob investigação federal.
Aceitou deixar Ramagem indicar seu vice na Abin, Rolando de Souza.
Resignou-se, ainda, a manter o general Edson Pujol no
comando do Exército. Queria trocá-lo por Luiz Eduardo Ramos, um general da
ativa no Planalto. Provocaria uma cisão, alertaram, acelerando a erosão já
perceptível no respaldo militar ao seu governo. Também se conformou com a nota
da Defesa lembrando o papel constitucional das Forças Armadas. Foi a segunda em
15 dias.
Bolsonaro perdeu, de novo. Mas quem o viu nas últimas 72
horas acha que o presidente-candidato vai continuar apostando no arriscado jogo
de atração dos quartéis à política.
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