Como todo aspirante a ditador, Jair Bolsonaro não gosta da
ideia de um Judiciário independente. Na campanha de 2018, ele anunciou o plano
de ampliar o número de vagas no Supremo de 11 para 21. A manobra, inspirada em
ato da ditadura militar, lhe daria a chance de indicar dez ministros de uma só
vez.
Para facilitar a vida do pai, o deputado Eduardo Bolsonaro
propôs uma solução mais ligeira. “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz?
Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”, disse.
Nos dois episódios, o clã desafiou o Supremo e esperou as
reações negativas para fingir arrependimento. O roteiro se repetiu no ano
passado, quando o presidente divulgou um vídeo que retratava o tribunal como
uma hiena em busca de carniça.
Ontem Bolsonaro testou uma nova forma de intimidação. No
cercadinho do Alvorada, ele atacou o ministro Alexandre de Moraes, que o
impediu de entregar a Polícia Federal a um delegado amigo. “Como é que o senhor
Alexandre de Moraes foi para o Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer. Ou
não foi?”, provocou.
A liminar que barrou a nomeação de Alexandre Ramagem é
controversa. Juristas insuspeitos de simpatizar com o bolsonarismo consideram
que Moraes usou critérios muito vagos para anular um ato do presidente. Seria
mais um caso típico de ativismo judicial.
Contrariado, o presidente tinha a opção de recorrer ao
plenário. Ele preferiu o ataque pessoal, e ainda insinuou que se sentiu tentado
a atropelar a Corte.
“Quase tivemos uma crise institucional. Quase, faltou
pouco”,disse.
Afrontar um juiz do Supremo não é boa tática para quem tem
causas a julgar por lá. O tribunal costuma deixar as rixas de lado quando se
sente atacado. Foi o que aconteceu ontem, quando Moraes recebeu elogios de
Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.
Ao que tudo indica, o jogo de Bolsonaro é outro. Moraes
comanda dois inquéritos que preocupam o Planalto: sobre a indústria das fake
news e sobre os atos golpistas do último dia 19. O presidente já sabe que essas
investigações devem complicá-lo. Isso explicaria o ataque preventivo ao
ministro.
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