Além de pregar contra as instituições e afugentar
investidores, Jair Bolsonaro agora expõe os brasileiros a um experimento médico
absurdo ao tentar enfiar-lhes goela abaixo a cloroquina e outros medicamentos
sem eficácia comprovada no tratamento do coronavírus.
As drogas, segundo dezenas de estudos, não são apenas
ineficazes —oferecem
perigo e podem matar. Mas elas agora fazem parte da orientação do
Ministério da Saúde para que sejam administradas
precocemente em pacientes infectados pela Covid-19.
A covardia do governo impediu que os medicamentos integrem
um protocolo formal do ministério, o que exigiria a assinatura de um médico. O
subterfúgio foi publicar um documento de “orientações" da pasta, sem um
responsável, mas que sugere inclusive as dosagens a serem utilizadas.
Com os leitos de UTI chegando
ao fim em muitos estados, não tardará para que a população em desespero
ouça o garoto propaganda Bolsonaro e passe a constranger médicos contrários ao
uso da cloroquina.
Com as drogas agora recomendadas pelo próprio Ministério da
Saúde (tocado por um militar do mesmo Exército
que as produz e faz sua distribuição), será difícil para os médicos
convencer os pacientes a caírem fora do experimento idealizado pelo presidente.
Além de já terem de lidar com o coronavírus, o risco para os
médicos é uma enxurrada de pacientes com efeitos colaterais graves provocados
pela medicação, em especial arritmias cardíacas que podem matar. Já fatigados,
eles agora podem sofrer mais pressão.
Se por um lado os médicos têm a prerrogativa final de
receitar ou não a cloroquina, eles terão sobre seus ombros o peso de encarar
centenas de doentes sem UTIs; e agora contaminados pela campanha de um
presidente que avança sem que lhe imponham grandes limites.
Fernando Canzian
Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.
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