quinta-feira, 21 de maio de 2020

DIÁRIO DA CRISE LVI

Do Blog do Gabeira

No momento em que chegamos aos cinco milhões de atingidos pelo coronavírus, não deixo de me assombrar com o fato de tudo ter começado com uma estranha refeição. Alguém comeu um bicho na China e o planeta estremece.

Todos nós já fizemos refeições mais ou menos indigestas. No mínimo, ficamos com aquela cara de  “acho que foi alguma coisa que comi”.

Mas quem comeu o pingolim que por sua vez deve ter comido um morcego, estava devorando milhares de vidas, sonhos e o próprio futuro de parte da humanidade. Foi a refeição mais cara da história, se as coisas se passaram assim como costumam descrever.

Aqui no Brasil, houve uma reunião amena entre Bolsonaro e governadores. Isso mesmo: amena. Algo bastante raro nesse lado do mundo. O governo federal vai passar dinheiro para os estados. E todos se comprometem a não aumentar salário do funcionalismo.

Interessante que em alguns países, o sacrificio começa de cima. Na Nova Zelândia,  a primeira ministra Jacinda Arden, reduziu seu salário e dos ministros. Aqui os políticos pedem um sacrificio necessário mas se esquecem de entrar com sua parte.

A polícia do Rio matou mais um jovem. Dessa vez, na Cidade de Deus, num momento em que um grupo entregava cestas básicas para a comunidade. É preciso parar isso.

Em Brasilia, a polícia entrou num condomínio e prendeu  dois homens que faziam terror contra juízes e desembargadores. Diziam que iam matar todo mundo, inclusive familiares. E falavam em nome do general Walter Braga, que seria o homem responsável por uma intervenção militar.

Tudo mentira. São extremistas de direita, usando o nome do general. Foram presos tão suavemente que nem seu nome foi divulgado.

O conceito de direitos humanos varia de lugar para lugar, é pleno nas áreas mais ricas e desaparece  nas áreas mais pobres.

Hoje em Niterói as pessoas puderam se exercitar um pouco na rua e nas praias. Dizem que o processo é organizado e há restrições por idade.

Sonho com uma volta na Lagoa. Sempre fazia isso de bike ou mesmo  a pé. Tenho centenas de fotos da Lagoa. Na minha conta no Instagram compartilho meu trabalho fotográfico. A Lagoa está sempre presente.

A gente sempre tem melhores resultados nos lugares que conhecemos e amamos.

Tenho caminhado em casa. Mas creio que na primeira volta, de oito quilômetros as pernas vão sentir um pouco.

Em Niterói, a abertura parece que tem restrições aos mais velhos.

Isso me preocupa. Se o exercício for permitido, gradativamente, por faixa de idade, creio que somente no final do ano chegará a vez de quem está pelos 80.

Quando a gente era muito novo, os meninos trapaceavam na idade para ver filmes proibidos. Se demorar muito a liberação, sinto-me tentado a trapacear de novo, dessa vez  reduzindo a idade para sentir o ar puro, ouvir os bentevis e algumas maritacas que pousam perto do Abricó de Macaco.

Aliás, fotografo o Abricó de Macaco desde os botões até as flores maduras. É uma árvore linda que veio da Guiana para o Jardim Botânico e algumas sementes escaparam para a Lagoa.

Ainda não descobri exatamente como.

Mas com tanto pássaro vindo de lá para cá, para mim são os maiores suspeitos.

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