Quando o video tão comentado ainda estava nas mãos do
Ministro Celso de Mello, afirmei que ele daria uma boa série.
Havia tantas coisas nele, que talvez fosse necessário
dividí-lo em capítulos.
Ontem, escrevi apressadamente sobre o conjunto. Numa visão
impressionista, considerei o video não uma reunião mas uma pajelança.
Este termo foi inventado por Brizola e é usado para designar
encontros cujo único objetivo é animar as pessoas, sobretudo quando a moral
anda baixa.
A imprensa já discutiu amplamente o tema central da reunião.
Bolsonaro queria ou não interferir na PF? O vídeo ajuda a demonstrar isso, mas
necessita de conexão com fatos anteriores e posteriores a ele. Aliás quase
todas as investigações são um quebra cabeça em que as peças se encaixam
pacientemente.
Vou falar hoje de algo que me impressionou e acho que daria
um capítulo dessa série. Bolsonaro disse que as pessoas precisavam se armar e
que seu governo iria estimular isso.
Aparentemente não há novidade. Mas olhando de perto, há uma
grande novidade. Bolsonaro defendeu armar as pessoas para que se protegessem
num contexto de violência urbana. No vídeo, ela falar em armar as pessoas para
que defendam sua liberdade e posições políticas.
Num determinado momento, ele chegou a afirmar que se
estivessem armadas, as pessoas resistiriam contra a quarentena.
Concordo com ele sobre as algemas, sou contrário ao uso de
algemas, exceto em pessoas que representem perigo. Mas acho arriscado estimular
as pessoas e usar armas para resolver suas divergências políticas.
Os generais estavam ao lado dele e nem se importaram com a
fala. Parecem ignorar o que isso representa. Ou imaginar que liberando o uso
das armas, eles serão compradas apenas por bolsonaristas.
A visão de Bolsonaro planta a semente de uma guerra civil no
país. Creio que não ignora isso e ache uma guerra necessária.
As Forças Armadas, que tem o monopólio das armas, deveriam
evitar isso. O Exército chegou a formular três portarias que controlam e rastreiam
armas. Elas cairam por ordem de Bolsonaro.
Enfim, esse um dos lados mais perigosos que o vídeo nos
mostrou. Quem nos garante que bolsonaristas armados aceitam com facilidade o
resultado de uma eleição em que seu líder for derrotado?
O mais delicado nesse história é explicar para os filhos o
que significou essa reunião?
Muita gente ficou perplexa com o nível governo que temos e
não entende como a pandemia do coronavírus foi tão pouco e marginalmente citada
numa reunião do Conselho de Ministros.
O que mais ouvi foi isso: assustador
Mas esse é o nosso país. Já que muitos de nós decidiram
viver para sempre por aqui, não há outro caminho senão fazer alguma coisa para
mudar. Isso pode ser um alento para os dias que restam.
No meu artigo de segunda no Globo termino com essa frase: dessa vez não cairemos no erro de resistir com armas. Aprendemos com o passado e inventaremos novas táticas.
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