Mais um domingo de quarentena. Não estou nem contando
domingos. Usei parte do dia para escrever um texto para um livro coletivo sobre
o coronavírus.
Querem que você preveja o futuro.
Mas o futuro é meio opaco, precisamente por causa do vírus.
De qualquer forma, pude refletir sobre a atualização da
consciência ecológica diante da pandemia.
Falei um pouco da importância do desmatamento na insegurança
biológica. Sou testemunha disso, pois cobri a volta da febre amarela no norte
de Minas e outros pontos do país. A derrubada das matas teve um papel. A gente
pode constatar isso. Naquele tempo não tinha nada de quarentena, nem grupo de
risco. Vacinados, era possivel observarmos tudo.
Escrevi também sobre a relação com os animais. Os mercados
chineses são um problema com tantos animais silvestres empilhadas sem condição
de higiene.
Mas os grandes matadouros industriais no mundo ocidental
também terão de ser revolucionados. Muitos trabalhadores contraíram o vírus. O
ambiente pela falta de espaço para os animais, pela própria facilidade de
surgimento de doenças, está sendo reavaliado.
Choveu, foi um domingo meio feio.
Mexi com fotos do meu arquivo. Lembrei-me de outros
domingos, alguns chuvosos também.
As vezes passei domingos em pequenas cidades do nordeste.
Gosto muito de fotografá-las num dia assim. O centro é vazio. Concentro-me nas
portas de aço das lojas. E fico esperando acontecer alguma coisa diante delas.
Lembrei-me também de alguns domingos com as meninas, no mar
de Angra. Eles gostavam de pular do barco, o mais alto possível.
Revi umas fotos do nosso grupo de risco, os velhos da
piscina. Vou postá-las um dia. Armando no esplendor dos seus 93 anos, com uma
toalha azul em torno do pesçoco, Silvio aos 90.
Não avancei muito mais na lembrança pois são muitos
domingos. Inclusive os de grande prêmio Brasil no Jockey, eram tardes bonitas.
Alguns domingos cinzentos em Santiago, gelados em Estocolmo. São muitos
domingos, não há tempo nem para uma minúscula fração deles.
Amanhã acaba essa nostalgia, mesmo se continuar a chuva. É
preciso planejar o trabalho matinal, o podcast de terças, lives e mais lives,
inclusive uma delas muito importante para mim, com pessoas que atuam no
Congresso.
São poucos, raros, mas o momento é muito delicado. Fiquei
impressionado com a nota do general Heleno, manifestações de militares da
reserva. Eles insinuam a possibilidade de um golpe.
Na verdade, falam em guerra civil. O discurso de Bolsonaro
sobre a necessidade de armar a populacão, não apenas para se defender de
assaltos, mas para exprimir suas posições políticas, é um indício assustador.
Precisamos evitar um golpe , evitar o clima de guerra civil.
Somos o epicentro da pandemia de coronavírus, já perdemos mais de 20 mil
pessoas, e os generais estão focados em guerra civil.
Tudo o que precisamos é superar o auge da doença, voltar
progressivamente ao trabalho e enfrentar a grande crise econômica que nos
espera.
É mais do que necessário uma grande frente democrática que
enfrente os problemas reais e dissipe ou pelo menos isole esses ressentimentos
extremistas.
No artigo que publico amanhã no Globo digo claramente que não vamos cometer o erro de resistir com armas, como no passado. O negacionismo da pandemia e a destruição consciente da Amazônia tornam o governo de Bolsonaro não apenas perigoso para nós mas para toda a humanidade. Essa é alavanca para levantar o mundo a nosso favor.
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