segunda-feira, 4 de maio de 2020

DIÁRIO DA CRISE XLIV

Do Blog do Gabeira
Hoje foi um dia de grandes perdas na cultura brasileira, Aldir Blanc, Flávio Migliaccio. São dias tristes. Uma leitora disse que tenho uma expressão de tristeza na tevê. O que fazer? Os fatos não ajudam no momento.
Pelo menos consegui pegar um solzinho aqui no prédio. As nuvens não têm ajudado nos momentos de folga. As vezes, estou trabalhando e vejo o sol brilhar. Quando termino, ele some entre as nuvens. Isso é normal, pelo menos isso é normal.
Li alguns textos sobre como o coronavírus é surpreendente na medida em que se espalha pelo mundo. Países como o Irã, por exemplo, são fortemente atingidos, com sete mil mortes. Seu vizinho Iraque passou quase incólume com menos de duas dezenas de mortes.
Países com grande população idosa deveriam ser fortemente atingidos. Não foi assim com o Japão. Países que fazem tudo errado como a Indonésia conseguem escapar sem grandes danos.
Mesmo os africanos, onde se esperava um desfecho trágico, conseguiram se antecipar em alguns casos e mantêm baixos índices.
Lembro-me das primeiras entrevistas de Mandetta. Ele sempre mostrava muita apreensão com o Rio Grande do Sul. É mais frio, com grande incidência de gripe.
No entanto, a coisa ficou mais difícil nos estados amazônicos. Amazonas, Pará e o Maranhão, que também faz parte da Amazônia.
Naturalmente que a ação dos governos têm peso, possivelmente a própria genética explique um pouco. Mas o acaso é muito importante. Se uma sul coreana tivesse ficado em casa, num certo dia, os índices lá seriam menores.
Se o Irã não tivesse aberto seus templos, talvez conseguisse escapar, se não houvesse uma partida entre Atalanta e Valência…
Há muitas variáveis que não controlamos. Se é tão complicado o jogo que define a sorte dos países, imagine o das pessoas.
Mencionei a história de um jornalista que estava há 20 dias trancado em casa, tomando sol na janela. Apesar disso foi contaminado.
No dia em que sai de Fernando de Noronha o aeroporto estava cheio. Esperei um pouco sentado num carrinho de bagagem do lado de fora. Ao chegar no Rio soube que o primeiro contaminado na ilha foi um funcionário do aeroporto. Quantos não se contaminaram ali, naquele tumulto de dois voos simultâneos num espaço minúsculo.
De certa forma, viver foi sempre arriscado. Mas agora a sensação que tenho é a de uma roleta russa, aquele jogo com um revólver carregado com uma bala mortal.
Em Brasilia havia, não sei se ainda funciona, um restaurante chamado Carpe Diem, o que significa aproveite o dia, curta o presente.
Com o futuro subitamente sequestrado por um vírus sob muitos aspectos inexplicável, talvez seja essa a única lição possível.
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