Pelo segundo dia seguido, o ministro da Saúde disse que o
governo deve recomendar medidas mais rigorosas de isolamento contra o
coronavírus em algumas cidades. Nelson Teich afirmou na Câmara que o chamado
“lockdown” pode ser implantado para “segurar o número de casos novos” de
contaminação.
O doutor está na contramão do chefe. Após receber
empresários e fazer um comício no STF contra o distanciamento, Jair Bolsonaro
alegou que as restrições são inúteis. “Essa questão de ‘fique em casa’ não está
funcionando. Está servindo para matar o comércio”, diagnosticou.
O presidente trocou o ministro responsável pelo combate à
pandemia porque Henrique Mandetta não dizia o que ele queria ouvir. Teich
assumiu com um discurso errático e completou 20 dias no cargo sem nenhuma ideia
de como enfrentar a crise, mas nem ele conseguiu maquiar a realidade para agradar
ao patrão.
Bolsonaro insiste numa retomada imediata e milagrosa da
economia, embora ninguém no governo seja capaz de apresentar um plano para que
isso seja feito de forma segura. Seu propósito é puramente político: uma
tentativa de manter a tensão com governadores e se proteger dos danos
provocados pela recessão.
Enquanto sistemas hospitalares entram em colapso e corpos se
amontoam em câmaras frigoríficas, o presidente só se lembra deles para fazer
campanha pela reabertura de lojas e fábricas. “A indústria comercial está na
UTI”, declarou. “Depois da UTI, é o cemitério.”
Ele reproduzia a metáfora de lobistas que foram a Brasília
para defender o relaxamento das medidas de restrição. Um deles, representante
de fábricas de brinquedos, mostrou qual era a preocupação da turma. Reclamou da
China e completou: “Eu tenho um inimigo lá fora prontinho para suprir o mercado
inteiro, e então haverá morte de CNPJ”.
Até esta quinta (7), morreram 9.146 CPFs, na linguagem do empresário. Já os CNPJs do grupo que visitou Bolsonaro receberam ajuda do governo e cafezinho no Palácio do Planalto.
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