Jair Bolsonaro fez uma visita surpresa a Augusto Aras,
procurador-geral da República. Foi à procuradoria apenas para “apertar a mão do
nosso novo colegiado maravilhoso da PGR”. Recebeu “a alegria de sempre”,
segundo Aras.
Teria sido mais um encontro imprevisto, fechado e rápido, se
Bolsonaro não fosse um investigado e Aras o seu investigador em inquérito sobre
crimes de responsabilidade na Presidência. Esse detalhe deu relevo à cena de
ontem, em Brasília.
Ambos ainda ruminam a derrota no Supremo, na divulgação dos
registros da reunião ministerial de abril.
Aras pediu ao juiz Celso de Mello uma censura muito mais
abrangente do que a solicitada pela defesa do presidente. Argumentou que a
transparência ao público, reivindicada por outro investigado, o ex-ministro
Sergio Moro, daria à oposição chance de “uso político, pré-eleitoral (2022)”,
criando “instabilidade” e “querelas”.
O juiz respondeu-lhe em 55 páginas. Lembrou a Aras que, no
regime democrático, o Ministério Público não pode sequer manifestar a
“pretensão” de restringir o direito de investigado ou réu em ver produzidas ou
ter acesso a provas que possam favorecê-lo. A Constituição impõe publicidade
aos atos de agentes públicos, observou. E, no caso, nem o governo se preocupara
em tratar a reunião com sigilo.
Aras perdeu a batalha, mas tem o poder final de denunciar —
ou não — o presidente. Pode decidir antes da aposentadoria do juiz Celso de
Mello, em novembro. Ou deixar para a época de sucessão na Procuradoria-Geral e
de escolha do substituto de outro que se aposentará no STF, Marco Aurélio
Mello. De toda forma, Bolsonaro o deixou exposto na visita de ontem.
O presidente abstraiu a pandemia e segue em campanha pela reeleição. No roteiro incluiu o domínio de agências de espionagem, órgãos de controle externo e o Ministério Público. Ano passado, apresentou critérios peculiares para escolha do procurador-geral. Na essência, desejava a virtual conversão da PGR em anexo do Planalto. Bolsonaro, agora, só depende de Aras.
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