quinta-feira, 21 de maio de 2020

O PAPELÃO DA VIÚVA PORCINA

Bernardo Mello Franco, O GLOBO

Regina Duarte reviveu a Viúva Porcina: foi secretária da Cultura sem nunca ter sido. A atriz trocou o protagonismo nas novelas por uma ponta num governo de chanchada. Saiu de cena em menos de três meses. Um fracasso de público e crítica.

A estreia já foi um espetáculo constrangedor. Entre caras e bocas, Regina definiu a cultura nacional como uma mistura de chimarrão, pum de palhaço e caipirinha de maracujá. “Cultura é assim: é feita de palhaçada”, discursou. Nem o tradutor de libras conseguiu disfarçar o espanto.

Em poucos dias, o polemista Olavo de Carvalho sentenciou que a atriz não estava “bem da cabeça”. Ela tentou se livrar dos discípulos dele, mas fracassou. O guru manteve seus radicais no comando de órgãos como a Biblioteca Nacional e a Fundação Palmares. Sem poder efetivo, Regina se resignou a fazer figuração.

Esvaziada, a secretária sumiu. Só passou a ser vista nas redes sociais, onde postava fotos de bichinhos e mensagens de autoajuda. Há duas semanas, ela tentou se redimir no papel de namoradinha da extrema direita. Cometeu um suicídio de reputação, com transmissão ao vivo na TV.

Numa entrevista delirante, Regina bajulou o capitão, relativizou os crimes da ditadura e deu chilique diante das câmeras. Não convenceu os radicais e se indispôs de vez com a classe artística. A performance arrancou elogios de um general de pijama, mas não foi suficiente para segurá-la no cargo.

Ontem o presidente Jair Bolsonaro informou que a atriz voltará a São Paulo para dirigir a Cinemateca Brasileira. Depois de uma temporada de ócio remunerado em Brasília, ela vai assumir outra sinecura perto de casa. “Pode ter um presente melhor que esse?”, comemorou, na última cena do pastelão.

Regina será substituída pelo ator bolsonarista Mário Frias, ex-galã de “Malhação” que apresentava um programa de turismo na RedeTV. Antes de sumir da telinha, ele interpretou um deputado corrupto na novela “Senhora do Destino”. A experiência pode ajudá-lo a entender a cabeça do novo chefe.

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