Não faz muito, “filho da mãe” era uma ofensa gravíssima. Não
exatamente filho da mãe, mas é melhor não usar a forma vulgar porque não
estamos em uma reunião ministerial. É preciso usar as palavras certas nas horas
certas.
Se alguém for chamado de filho daquela tal, talvez isso hoje
provoque mais reflexão do que ira. Por que, para me atingir, agridem minha mãe?
Se ela —por acaso— for aquilo de que a chamam, por que a depreciam? E,
finalmente, o que o mundo tem a ver com isso?
“Filho da mãe” deixou de ser um insulto terrível ao perder
tanto do seu conteúdo. Continua no topo dos xingamentos, mas sem a força que já
teve. Atualmente, se quiser vilipendiar, afrontar, ultrajar alguém, é só chamar
de bolsonarista.
Isso sim, não dá para deixar barato.
Foi porque o colocaram em uma lista de bolsonaristas
célebres que o
cantor Seu Jorge se obrigou a uma live de emergência. “Eu não tenho a
menor condição de apoiar esse senhor”, ele disse e repetiu para seus
seguidores.
O mal-entendido deu-se porque, de volta ao Brasil em julho
de 2019, Seu Jorge declarou que esperaria para ver as atitudes do atual
desgoverno. O que seria implementado, o que seria respeitado. Isso Bolsonaro já
respondeu: nada. O resto é história. Eu não tenho a menor condição de apoiar
esse senhor.
Já não basta não ser bolsonarista, é preciso não parecer
bolsonarista.
Quem não compactua com isso daí faz questão de mandar um “me
inclua fora dessa” geral. Bolsonarista é uma injúria muito feia. Quer dizer,
para início de conversa, que a pessoa coloca ela mesma acima de todos e seus
filhotes acima de tudo.
Significa não respeitar os vivos nem, óbvio, os mortos. Não
respeitar o diferente —seja uma opinião ou alguém. Andar cercado pelas piores
pessoas. Mas pense nas piores mesmo. Se você for uma criatura dita comum, é
muito provável que jamais conheça pessoas tão horrorosas. Ser ignorante. Ser
orgulhoso da própria ignorância. Desprezar o conhecimento.
Lutar contra os corruptos (pronuncia-se corrupitos), a não
ser que sejam da sua turma. Mentir na cara dura e, depois, mentir de novo para
consertar. Assim até o fim dos tempos.Tratar o país como o quintal de casa. Não
vão f* minha família. Bem fez Seu Jorge em desmentir no ato. Se ninguém merece
ser ofendido de graça, muito menos de bolsonarista. É muto baixo nível. Que
venham as lives de repúdio.
Claudia Tajes
Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".
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