Cometo hoje um ato de nepotismo. Dedico esta coluna a um
tio, Victor Nussenzweig. Victor, 91, é cientista. Deixou o Brasil nos anos 60,
por causa da ditadura. Ele e a mulher, a também pesquisadora Ruth (1928-2018),
radicaram-se nos EUA, onde tiveram uma linda carreira científica.
Em 1967, Ruth publicou um trabalho seminal, em que mostrou
que era possível induzir em mamíferos imunidade contra o protozoário causador
da malária irradiando-o com raios X. A partir daí, Ruth e Victor, cada um no
comando de seu laboratório, somaram esforços para desenvolver uma vacina.
Nas décadas seguintes, conseguiram identificar a proteína do
Plasmodium envolvida na resposta imune, a CSP, e produzi-la em laboratório.
A CSP está na base da vacina antimalárica GSK RTS,S, que foi
aprovada para uso em humanos e, desde o ano passado, vem sendo utilizada num
programa-piloto em países africanos. A vacina está longe de ser uma bala de
prata. Sua eficácia é de apenas 30% a 50% e exige reforços periódicos. Ainda
assim, diante do fardo que a malária representa, matando 580 mil pessoas por
ano, ela poderá salvar inúmeras vidas.
Alguns dias atrás chegou-me o recado de que Victor queria
dizer algumas palavras sobre Bolsonaro. Pedi que as colocasse no papel.
“Não vejo nenhuma resposta do Bolsonaro frente a essa
emergência sanitária. Aqui [nos EUA] vivemos com um presidente safado [Trump],
mas que não é burro. Na minha opinião, Bolsonaro é safado, ineficiente e burro!
Está sendo responsável pela morte de muita gente! Saí do Brasil na época da
ditadura militar. Não chamo militares de militares, eu os chamo de milicos. Os
milicos são o oposto dos cientistas.
Querem obediência cega. Os cientistas, ao contrário, duvidam
dos dogmas e trabalham para derrubar os dogmas, estabelecer a verdade e ajudar
a população.”
Victor dedicou a vida a estudar patógenos e como enfrentá-los. Sabe do que fala.
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