O Enem deve ser adiado devido à pandemia? Acho que sim,
dentro de certos limites. O argumento é conhecido: como os alunos mais pobres
têm mais dificuldades para seguir estudando neste momento de reclusão, a
manutenção do calendário reforçaria ainda mais a desigualdade no acesso ao
ensino superior.
Não vejo como discordar. O ponto, me parece, é que há um
limite para quanto a prova pode ser adiada e ele é dado pelo ano letivo de
2021. O sistema de ensino é um fluxo. Para cada turma que sai, precisa entrar
uma nova. Não faria sentido que as universidades ficassem um período sem
alunos. Também não podem condensar demais os conteúdos do primeiro ano.
Num cenário de excepcionalidade, como será 2021, as aulas,
que costumam ter início em meados de fevereiro, poderiam, sem prejuízo
irrecuperável, começar em abril, talvez maio, se suprimirmos as férias de
julho. Isso significa que o Enem poderia ser transferido de novembro para janeiro.
Tenho uma proposta que nos daria uns dois meses adicionais.
Basta eliminar a redação do Enem. Sei que é polêmico. Todo mundo adora a ideia
de prova dissertativa. Em teoria, não há nada melhor do que uma redação para
avaliar o estudante. Ela permite, de uma vez só, averiguar o nível de
conhecimentos do candidato, sua capacidade de articular ideias e seu domínio
sobre a escrita.
O problema é que é impossível corrigir milhões de
dissertações de modo objetivo. Sem a redação, o Enem seria menos suscetível às idiossincrasias
dos corretores, mais barato e seus resultados sairiam quase instantaneamente,
que é o que nos interessa aqui. Poderíamos adiar a prova até março ou mesmo
abril.
E o que perdemos abrindo mão da redação? Não muito. Apesar de nossas intuições não concordarem, é alta a correlação entre o desempenho em questões de múltipla escolha e na dissertação. Quem vai bem nos testes costuma ir bem na redação, e vice-versa.
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