Se houver novidade na eleição para a prefeitura paulistana,
não virá do PT. O candidato
recém-definido pelo partido, Jilmar Tatto, é um velho conhecido do
eleitorado local, em particular o da região da Capela do Socorro, na zona sul,
apelidada de Tattolândia devido à influência de sua família.
Ele e quatro irmãos já conquistaram cargos legislativos com
os votos do reduto, onde o poder do clã remonta aos anos 1980. O prefeitável
petista conhece como poucos a máquina municipal, tendo ocupado cargos
importantes nas gestões de Marta Suplicy (2001-2004) e Fernando Haddad
(2013-2016).
Tampouco se pode chamar de inovadora a proposta mais vistosa
apresentada por Tatto em entrevista à Folha —a gratuidade
do transporte de ônibus na cidade.
Essa era, afinal, a bandeira dos movimentos que protestaram
contra os reajustes de tarifas promovidos pelos governos paulista e paulistano
em 2013, quando o hoje candidato ocupava justamente a pasta municipal de
Transportes. A negativa da época contribuiu para desencadear uma onda nacional
de manifestações, não raro violentas.
“Eu sei onde buscar os recursos”, diz Tatto, acerca dos
exorbitantes subsídios necessários para custear a promessa. É curioso que não
soubesse sete anos atrás, quando seu partido estava instalado no poder federal
e as condições orçamentárias se mostravam muito menos dramáticas que as atuais.
Em valores de então, calculava-se que a benesse obrigaria a
prefeitura a elevar de R$ 1 bilhão para R$ 5,6 bilhões o gasto anual com o
transporte coletivo. Note-se que Tatto, hoje, ainda pretende implantar um
programa de renda básica.
O PT vai persistindo na prática de abandonar, na oposição, o
realismo político e financeiro que conseguiu respeitar em boa parte de suas
administrações —e o estelionato reeleitoral de Dilma Rousseff é o contraexemplo
mais doloroso para a legenda e o país.
Com tal estratégia desgastada, arrisca-se a pregar apenas
para militantes e convertidos, se não for essa a intenção. Não parece ser
diferente com o recém-anunciado “Plano Lula para o Brasil”, um pretenso
programa de reconstrução econômica do país que por ora só tem de concreto a
reverência ao cacique.
Divulgou-se depois que o próprio Lula estaria decidido a retirar seu nome da empreitada, de modo a facilitar a adesão de outras forças. Soa tão farsesco quanto a intenção, manifestada no segundo turno da disputa presidencial, de reunir uma frente política ampla em apoio a Fernando Haddad —aliás, o coordenador do novo plano.
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