Não adianta nada nomes como Luiz Henrique Mandetta queimarem
a largada especulando sobre candidatura presidencial a essa altura do
campeonato. Não bastasse haver um vírus à solta que terá matado 100 mil
brasileiros até o início de agosto, ceifado milhões de empregos, virado o
programa econômico de Paulo Guedes de cabeça para baixo e transformado as
eleições municipais em nota de rodapé, isso para ficar só nos efeitos
domésticos, outros acontecimentos em Brasília são pressupostos fundamentais para
posicionar os corredores na linha de largada.
Eles começam agora, nesse segundo semestre que inicia
oficialmente em agosto. Não à toa Rodrigo Maia saiu do silêncio que vinha
mantendo para comandar uma dissidência no “blocão” de partidos da Câmara que
deu suporte à sua presidência nesses quatro anos. Maia sabe que é vital não
apenas para sua sobrevivência como líder político relevante, mas para a
construção de qualquer projeto de centro dissociado do bolsonarismo e
minimamente competitivo, manter o comando da Câmara no último biênio do
governo.
Não que o Congresso tenha sido o protagonista nos atos de
contenção a Bolsonaro nesse 2020 em que o presidente resolveu rasgar a
fantasia. Esse papel, como se sabe, tem sido exercido pelo Supremo Tribunal
Federal.
Mas é ali, na Câmara, que pode nascer um dos temores maiores
da existência do presidente, maior que acabar a cloroquina no meio da noite: a
abertura de um processo de impeachment, algo que Maia evitou alimentar nesses
dois anos de convivência tensa, mas que é um trunfo à mão de qualquer
presidente da Casa, a depender do impulso das ruas, de um motivo jurídico e de
combustível dos setores econômicos.
Por ora nenhum desses fundamentos está dado. A pandemia tira
a possibilidade de grandes manifestações de rua, Bolsonaro se segura ali no
limiar dos 30% de aprovação, com um público que está trocando de pele da elite
agora horrorizada com seus descalabros para as classes D e E conquistadas à
base de auxílio emergencial. E o ainda bagunçado apoio do que restou do Centrão
ao presidente pode lhe dar os votos necessários para evitar ter o mesmo destino
de Dilma Rousseff.
Mas não é esse o único poder que emana dos comandantes da
Câmara e do Senado. Bolsonaro não teve êxito até aqui em avançar com sua pauta
reacionária no Legislativo. O que conseguiu para “escancarar a questão das
armas”, por exemplo, fez via decreto. Alguns foram, inclusive, derrubados pelos
parlamentares. A tentativa de aprovar pautas obscurantistas como a tal Escola
sem Partido nunca foi adiante, e os vetos do presidente a projetos aprovados ou
alterados pelos deputados e senadores podem ser derrubados a qualquer momento.
Sem o controle da pauta dificilmente o presidente terá mais
sorte nos dois últimos anos de seu mandato. Isso além dos obstáculos
institucionais que enfrentará em outras searas, como o Supremo e o Tribunal
Superior Eleitoral.
Por tudo isso, para chegar competitivo a 2022 Bolsonaro tem
de sobreviver não só ao 2020 do vírus e do desastre econômico como a dois
últimos anos com atores no comando que ainda não estão em cena. Dois deles são
escolhas de deputados e senadores, mas outros dependem da caneta do próprio
Bolsonaro, que vai indicar, entre outros postos, um ministro do STF, Corte hoje
hostil a ele e unida como poucas vezes, em novembro.
Ignorar essas variáveis e como a economia vai se comportar só fará com que eventuais postulantes à Presidência se exponham ao sol sem protetor. Mandetta não é o único a se arriscar a uma queimadura. Deveriam ficar mais embaixo do guarda-sol organizando os exércitos, como Maia está fazendo, e procurar algum grau mínimo de coesão.
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