Do Blog do Gabeira
DIÁRIO DA CRISE CXXXII
Saí de casa hoje achando que estava apenas cinzento mas a
chuva me pegou ainda na saída. Recuei a tempo.
Há um forte ataque à Lava Jato conduzido pelo procurador
Augusto Aras. Ironicamente, o governo que se elegeu em nome da luta contra a
corrupção quer enterrar a Lava Jato.
Aras é uma escolha de Bolsonaro, fora da lista tríplice. Ele
quer concentrar todas as informações da Lava Jato porque sabe que isso amplia
seu poder.
Numa palestra com advogados mencionou documentos que
poderiam ter sido apreeendidos legalmente. Mas não ofereceu provas, nenhuma
indicação real.
A Lava Jato seria bombardeada por qualquer governo. Moro
cometeu um erro ao se ligar a Bolsonaro.
Não conseguiu avançar na luta contra a corrupção e ainda
enfraqueceu a Lava Jato, abrindo um flanco para que fosse vista como aliada de
Bolsonaro.
Bolsonaro é um político convencional com problemas idênticos
a muitos outros. A diferenteça que os outros se financiavam com empresas.
Bolsonaro e seus filhos tinham quatro gabinetes para empregar parentes e se
financiar.
Quando estourou o caso Queiroz tudo isso ficou claro. Nem
aí, Moro conseguiu ver.
Amanhã tenho um debate no aniversário do Globo sobre
cultura. Pretendo falar de cultura criativa e meu trabalho nas cidades
brasileiras estimulando-as a estudar e explorar sua tradição cultural.
Mas por via das dúvidas estou consultando um calhamaço de
614 páginas, A Conveniência da Cultura de George Yudece.
De ontem para hoje, com uma boa incursão noturna li o livro
de Patricia Campos Melo, A Máquina do Ódio. Trata de violência digital e fake
news em alguns países do mundo. No mesmo sentido do livro Arquitetos do Caos,
de Giuliano Da Empoli que comentei no artigo Algoritimos e cólera. Está
disponível na página.
Patricia conta as agressões verbais que sofreu quando
denunciou manipulação digital na campanha de Bolsonaro.
Menciono o livro dela num outro artigo sobre o tema, só que
mais ameno. Nele falo sobre o livro Duelo no Serpentário, uma antologia do
debate intelectual no Brasil de 1850 a 1950, coletânea organizada por Alexei
Bueno e George Ermakoff.
Como eram de alto nível os debates de antigamente. Muitos
eram chatos, reconheço. Mas eles passavam dias e noites, escrevendo sobre a luz
de lamparinas. O objetivo era defender sua tese. Muitas ideias, de vez em
quando uma ironia, raramente um insulto. Hoje são muitos insultos, de vez em
quando uma ironia e raramente uma ideia.
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