Se não houvesse outras indicações, a saída de DEM e MDB do
bloco do Centrão que apóia o governo seria, por si só, uma importante inflexão
parlamentar em busca de “independência regimental”. Isso quer dizer que os dois
partidos não querem estar formalmente ligados às decisões da liderança do
governo no Congresso.
Na prática, já estavam distanciados, o que a votação do
Fundeb demonstrou, impondo uma derrota acachapante ao Governo e a seu líder
oficioso Arthur Lira. Os movimentos de aproximação do novo PSDB sob o comando
do governador de São Paulo João Doria, e o DEM se tornaram evidentes desde a
escolha do relator da reforma da Previdência, com os tucanos ganhando um posto
chave na questão mais central da política daquele momento, uma decisão que
coube ao presidente da Câmara Rodrigo Maia, do DEM.
As conversas entre PSDB e DEM têm a participação também do
PSD de Kassab, para se fundirem um único partido, ou trabalharem em conjunto na
direção da centro-direita e se opor aos radicalismos de esquerda e de direita.
Maia, embora se dê muito bem com a esquerda parlamentar, não quer uma coligação
“de centro- esquerda”. Muito menos o governador Dória, que levou o PSDB para a
centro-direita.
Kassab foi secretário do governador Doria, e agora ganhou
espaço maior no governo Bolsonaro, que um dia o chamou de “desgraça”, com a
indicação de Fabio Faria para o ministério das Comunicações, que tem ligação
forte com o presidente da Câmara. A aproximação de Bolsonaro com o Centrão, que
parecia lhe dar suporte político no Congresso, foi fragilizada com a saída de
DEM e MDB, ao mesmo tempo em que se fortaleceu uma antiga ideia de formação de
um bloco de centro-direita que possa se opor aos extremos políticos, PT e
bolsonarismo.
A disputa pela presidência da Câmara faz parte dessa estratégia
de longo prazo, que se consolidará caso se confirme a possibilidade legal de
reeleição de Maia e Alcolumbre no Senado. Nessa questão Rodrigo Maia está
agindo com mais cautela do que Alcolumbre, que assumiu a frente da luta pela
reeleição na mesma legislatura, que hoje é proibida pelo regimento interno.
Já houve exceções na história do Congresso, com Antonio
Carlos Magalhães se reelegendo na própria legislatura com base em uma
interpretação da advocacia da Casa aprovada na Comissão de Constituição e Justiça.
Também Rodrigo Maia recebeu permissão do Supremo Tribunal Federal para ser
reeleito, pois o ministro Celso de Mello decidiu não contar o mandato-tampão
que exerceu substituindo Eduardo Cunha.
Uma tendência é o STF decidir que esta é uma questão interna
da Câmara e do Senado, permitindo reinterpretações ou mudanças dos regimentos
internos. Caso isso aconteça, o mais provável é que Rodrigo Maia, docemente
constrangido, aceite mais um mandato à frente da Câmara, o mesmo acontecendo
com David Alcolumbre no Senado, sem nenhum constrangimento.
O Centrão ganhou força no Palácio do Planalto, mas não
politicamente, pois a Câmara está tendo mais influência na gestão dos assuntos
mais importantes, como as reformas, começando pela da Previdência, o Fundeb e o
marco regulatório do saneamento básico sem precisar do Palácio do Planalto.
A popularidade do presidente Bolsonaro está estável em bom
patamar, depois de ter dado sinais de queda, devido ao auxílio emergencial, e
se o governo conseguir arranjar dinheiro para ampliar o Bolsa Família,
transformando-o em Renda Brasil, é possível que consiga manter a vantagem que
hoje as pesquisas lhe dão para 2022.
Mas o panorama econômico de curto prazo não é favorável, e ainda há muitas questões políticas para Bolsonaro ultrapassar no caminho para a reeleição. Por isso, faz sentido o PSDB, PSD e DEM, partidos hoje ideologicamente muito próximos, tentarem se unir em uma nova alternativa de centro-direita. Depois que as lideranças tucanas mais identificadas com a centro-esquerda perderam a influência, inclusive diante das investigações da Lava Jato eleitoral, esse caminho está aberto.
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