O Supremo Tribunal Federal (STF) está de parabéns por
liderar a resistência democrática com posições firmes que por vezes
extrapolaram alguns limites, mas, no conjunto, foram decisivas para inverter os
ataques e, assim, “cortar as asinhas” e “baixar a bola” do Executivo e de
bolsonaristas assanhados, loucos por golpes e aventuras. Mas a união exemplar
do Judiciário no primeiro semestre pode não se repetir no segundo.
Quando estão em jogo a democracia, arroubos do presidente,
ameaças dos meninos do presidente, bravatas de ministros do presidente e
ataques virtuais ou reais de seguidores do presidente, o Supremo se une, é um
monobloco. Decisões e manifestações do presidente Dias Toffoli, do decano Celso
de Mello e do relator das fakenews, Alexandre de Moraes, são acatadas, em
geral, por unanimidade. Mesmo com críticas e muxoxos nos bastidores.
Saindo da esfera democrática, porém, emergem ideologias,
idiossincrasias, divergências e velhos rancores. O que detona isso? Toffoli
tomar partido da Procuradoria Geral da República (PGR) contra a Lava Jato. Ao
determinar que as Forças Tarefas de Curitiba, Rio e São Paulo entreguem todos
os seus arquivos à PGR, incluindo dados financeiros de 38 mil cidadãos, Toffoli
não só autoriza a devassa na Lava Jato e dá excesso de poder ao procurador
geral Augusto Aras como reabre as feridas no Supremo.
Exemplo: Gilmar Mendes vota com Luiz Roberto Barroso e Edson
Fachin contra ação de golpistas no prédio do STF, máquinas de moer reputações
na internet, acusação de interferência política na Polícia Federal e ameaças de
“basta”, “ruptura”, “consequências imprevisíveis” e de “não cumprir ordens”.
Com Lava Jato, a coisa muda de figura.
No fim do recesso do Judiciário, em agosto, vem o julgamento
da liminar monocrática de Toffoli a favor da PGR de Aras e contra a Lava Jato
de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e forças-tarefa, num movimento combinado para
implodir a operação por “excessos”. Aí… Gilmar vai para um lado, Barroso e
Fachin para outro. Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio se aliam para cá, Luiz
Fux e Carmen Lúcia, para lá.
O clima político desanuviou com o silêncio e a reclusão do
presidente, primeiro por cálculo político, depois pelo teste positivo. A
covid-19 tem agora o efeito da facada na campanha: esconder e proteger
Bolsonaro de Bolsonaro. Mas a guerra continua. Cerco aos militantes das
fakenews, inclusive no Planalto e no Congresso. Prende-e-solta de Fabrício
Queiroz entremeado com depoimentos do Zero Um. Devastação do ambiente. Saúde
sem ministro. O pastor Milton Ribeiro, quarto ministro polêmico da Educação.
Quanto tempo o “paz e amor” resiste?
E o clima quente do Judiciário será também no Superior
Tribunal de Justiça (STJ), depois do habeas corpus do presidente João Otávio
Noronha para tirar Queiroz da prisão e premiar a mulher dele, Márcia Aguiar,
que fugiu da polícia. Noronha tem um caso de “amor à primeira vista” com
Bolsonaro (nas palavras do próprio Bolsonaro), está de olho em uma vaga no STF
e argumentou que Márcia precisa cuidar do marido! Um marmanjo que vivia de
festas, churrascos e cerveja em Atibaia! E as presas pobres que têm filhos
largados e agora fora das escolas?
Assim, o segundo semestre promete. Supremo com Lava Jato, STJ com Queiroz e Márcia, Congresso com projeto das fake news e prisão após segunda instância, Planalto com Ricardo Salles, Ernesto Araújo e Milton Ribeiro. A covid-19 contamina, mata, destrói empresas e empregos e cria cicatrizes num País já tão machucado. Brasília não é mais a cidade das cobras e lagartos, mas das cobras Naja e de tubarões em aquários. Ambos, Najas e tubarões, proibidos. O resto, não. É parte da paisagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário