quinta-feira, 23 de julho de 2020

DIÁRIO DA CRISE

Do Blog do Gabeira

DIÁRIO DA CRISE CXXV

Morreu hoje no Rio, aos 88 anos, Sérgio Ricardo. Era compositor, fazia cinema, pintava – um artista de muito talentos.

Minha lembrança dele é mais musical. Não vi seus filmes mas ouvia sua canções. Lembro-me de Zelão, uma novidade dentro do movimento da Bossa Nova. Não era romântico e apresentava alguma inquetação social. Lembro-me, se a memória não falha, de um verso que dizia: no fundo de um barracão, só se cozinha ilusão, restos que a feira deixou…

Outro trabalho admirável de Sérgio Ricardo é a trilha Sonora do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

Ele ficou muito conhecido porque num festival da canção da Record, foi vaiado, quebrou o violão e jogou alguns pedaços na platéia.

Vaiava-se muito naquele época. Acho uma crueldade vaiar artistas. Já não penso o mesmo sobre vaiar políticos. Parte do jogo.

A primeira vez que fui vaiado, creio, fui diante da Embaixada Americana. Protestávamos contra o bombardeio da Líbia e introduzi também o tema da invasão russa no Afaganistão.

Era vaiado em alguns encontros do PT. Lembro-me de um congresso no hotel Glória, fiquei entre os convidados ao lado de Brizola.

Quando anunciaram meu nome, houve vaia e gritos: cadê meu telefone celular?

Era uma critica à minha posição sobre a quebra do monopólio nas telefomunicações. Eu defendia o movimento dos sem telefone e achava que a privatização iria democraticar o aparelho.

Hoje estamos entupidos de telefone celular. Mesmo os que me vaivam devem ter comprado dois aparelhos cada um, quando isto se tornou possivel.

A gente fica velho e se aproxima da morte e vê como essa história de vaias e aplausos importa pouco.

O que ficou da obra de Sérgio Ricardo é infinitamente superior aquele momento no festival da Record.

Minhas homenagens.

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