Pode-se criticar o tom do comentário, mas o juiz Gilmar
Mendes tem razão na essência da crítica ao envolvimento das Forças Armadas,
sobretudo o Exército, na anarquia governamental de Jair Bolsonaro.
O erro original foi cometido na campanha de 2018, quando o
então deputado, ex-capitão paraquedista, informou ao Forte Apache — o QG do
Exército em Brasília— sobre o plano de saltar da planície política para o topo
do poder no Planalto.
Um dia, talvez, seja resgatada a memória das conversas e a
extensão do respaldo do comando do Exército ao candidato. Sabe-se que nem tudo
obedeceu ao protocolo, mas há reconhecimento da eterna gratidão do beneficiário
em discurso: “Obrigado, comandante (Eduardo) Villas Bôas. O que nós já
conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por (eu) estar
aqui.”
O generalato sabe o que fez nas quatro estações eleitorais
de 2018 ao abstrair o passado do ex-capitão, preso e processado por anarquia
pelo Exército 33 anos antes, por um plano de bombas na Vila Militar, no Rio.
O projeto era reescrever o passado, a história do regime
militar de 1964, numa nova hegemonia fardada, com aumento do orçamento total
(de 1,5% para 2% do PIB). Permitiu-se a Bolsonaro enquadrar o governo numa
moldura militarista e transformar as Forças Armadas em peças do seu jogo
predileto, a confusão institucional. É eloquente a imagem do comício no portão
do Forte Apache, com o presidente incitando aliados que pediam o fechamento do
Congresso e do Supremo.
O resultado está na ocupação da Saúde, com laboratórios
militares (R$ 520 milhões para produzir 1,2 milhão de doses de cloroquina)
engajados na politização de um vírus, moldada para a campanha de reeleição.
Pode-se ver exagero do juiz Gilmar Mendes ao dizer que “o Exército está se associando a esse genocídio” (o desgoverno na pandemia). Se há crime — no caso, gravíssimo — será revelado em breve. Nada oculta o óbvio: as Forças Armadas se meteram numa confusão institucional com Bolsonaro. É hora do toque de retirada.
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