Morreu nesta quarta-feira (15), aos 89 anos, Severino
José Cavalcanti Ferreira, ex-presidente da Câmara dos
Deputados. O falecimento ocorreu durante a madrugada, no apartamento
dele no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife (veja
vídeo acima).
O enterro está previsto para ocorrer às 16h, na cidade
de João
Alfredo, no Agreste de Pernambuco, onde ele nasceu. Devido à pandemia
da Covid-19,
não vai haver velório. A prefeita de João Alfredo, Maria Sebastiana (PSD), decretou
luto oficial de três dias no município.
Segundo pessoas próximas à família, Severino Cavalcanti era
diabético e sofreu uma queda em 2019, quando fraturou o fêmur e a bacia. Uma
cirurgia seria necessária, mas não foi feita devido à diabetes. "Ele
estava dormindo na hora. Foi uma morte tranquila", disse um dos
filhos de Severino Cavalcanti, José Maurício Cavalcanti, ao G1.
Severino Cavalcanti foi deputado federal por três mandatos:
entre 1995 e 1999, entre 1999 e 2003 e entre 2003 e 2007.
Ele renunciou ao último mandato em 21 de setembro de 2005
como desdobramento da denúncia de que cobrava propina de R$ 10 mil por mês do
dono de um dos restaurantes da Câmara, no caso
conhecido como “mensalinho” (veja vídeo abaixo). Nesse
mesmo ano, havia sido presidente da Câmara entre os meses de fevereiro e
setembro.
Além da atuação como deputado federal, Severino Cavalcanti
também foi deputado estadual por sete mandatos, entre os anos de 1967 e 1995.
Entre 1964 e 1966, foi prefeito de João Alfredo. O ex-parlamentar retornou à
gestão do município entre os anos de 2009 e 2012.
Caso Miracapillo
Antes de protagonizar o caso do “mensalinho”, Severino
Cavalcanti se envolveu em um problema de repercussão nacional e até no
exterior: a expulsão do padre Italiano Vito Mirapcapillo, em 1980.
Tudo começou quando o religioso, então pároco na cidade de
Ribeirão, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, recebeu um pedido para rezar uma
missa em homenagem ao Dia da Independência do Brasil, em 7 de setembro.
Na época, o país vivia a Ditadura Militar e o presidente da
República era o general João Baptista Figueiredo. Apesar do regime de exceção,
o padre Vito Miracapillo se negou a rezar essa missa, solicitada pelos
fornecedores da cana-de-açúcar na região.
“Ele disse que o Brasil não era independente por causa da
exclusão e da pobreza no campo. Por isso, não faria missa”, lembrou o
ex-advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife Pedro Eurico, atual secretário
de Justiça de Pernambuco.
Diante da negativa, os fornecedores de cana escreveram uma
carta e enviaram o documento para a Assembleia Legislativa de Pernambuco
(Alepe). E aí que Severino Cavalcanti entra na história.
Enquanto parlamentar do antigo PDS, ele fez um
pronunciamento na tribuna e pediu a expulsão do padre italiano. “A Polícia
Federal abriu o inquérito e o caso foi parar no STF (Supremo Tribunal
Federal]”, relatou Pedro Eurico.
Pouco depois, o STF chegou a sustar a expulsão do padre, mas
Miracapillo já tinha deixado o Recife, para ir para a Itália.
“O governo conseguiu na reunião do pleno do STF que
mantivesse a prerrogativa do presidente a decisão de expulsar o religioso, que
foi para a Itália”, disse o ex-advogado da Igreja Católica.
Em 2012, Vito Miracapillo voltou ao Brasil e os advogados
pediram para ele ter os documentos de estrangeiro devolvidos. O italiano tinha sido
punido com base na lei dos estrangeiros, que não podiam opinar sobre questões
políticas.
“Solicitamos anistia para ele. O ministro Tarso Genro
entregou os documentos para ele poder entrar no país”, afirmou Pedro Eurico.
O padre
chegou ao Brasil em 3 de janeiro de 2012. Ele disse que não tinha
mágoa de ninguém e recebeu o visto.
Notas de pesar
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que
a morte de Severino Cavalcanti "deixa uma lacuna na política de
Pernambuco".
"Detentor de sete mandatos na Assembleia Legislativa,
três na Câmara Federal, inclusive com passagem pela Presidência, e com duas
gestões na prefeitura da sua cidade, João Alfredo, Severino teve uma trajetória
de muito trabalho. Neste momento de profundo pesar, quero me solidarizar com
sua esposa, dona Amélia, seus filhos Zé Maurício, Ana e Catharina, demais
familiares e amigos", disse Paulo Câmara, em nota.
Também por nota, o presidente da Assembleia Legislativa de
Pernambuco (Alepe), Eriberto Medeiros (PP), lamentou a
morte do ex-parlamentar.
“A partida do ex-presidente da Câmara dos Deputados,
Severino Cavalcanti, deixa uma lacuna, principalmente para nós que fazemos o
Progressistas e temos sua trajetória como referência. Vai deixar saudades
naqueles que o conheciam de perto. Que Deus conforte seus familiares e amigos”,
afirmou.
O presidente do PP, Eduardo da Fonte, também emitiu nota lamentando o falecimento de Severino Cavalcanti, que foi filiado ao partido entre 2003 e 2018. “Nos solidarizamos à família e amigos, especialmente à viúva Dona Amélia, aos filhos Zé Maurício, Ana e Catharina, aos netos e ao povo de João Alfredo, que ele tanto amou”, declarou.
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