Mal na foto, ameaçado de não se reeleger por ter feito uma
administração considerada desastrosa até aqui, o prefeito do Rio Marcelo
Crivella está à procura de um general que aceite ser vice na sua chapa. Só
assim poderá então se apresentar aos eleitores em novembro como o candidato
mais próximo do presidente Jair Bolsonaro, quando nada por amor à farda.
Há generais disponíveis, nos quartéis ou em suas casas,
capazes de aceitar um convite do prefeito. De repente, no país onde um
ex-capitão afastado do Exército por conduta antiética se elege presidente da
República, os militares afinal descobriram que a política pode lhes fazer muito
bem. E que a democracia não é um regime tão ruim assim quanto lhes pareceu no
passado.
Deveriam agradecer a Bolsonaro pela lição. Deputado federal
durante quase 30 anos, ele se elegeu baixando o cacete na política e negando
que fosse político. Prometeu jogar no lixo a Velha Política, para em menos de
dois anos começar a distribuir cargos com políticos que possam apoiá-lo. Mas
não só com eles. Dobrou o número de militares em cargos antes destinados a
civis.
Natural que vez por outra, um militar que melhorou de vida
graças ao ex-capitão enfrente aborrecimentos. Como aconteceu com o general
Braga Neto, ministro e chefe da Casa Civil. Quis empregar uma filha na Agência
Nacional de Saúde Suplementar com um salário de 13 mil reais, uma ninharia, por
suposto. Desistiu. Configuraria um caso de nepotismo, previsto em lei.
O general Hamilton Mourão, vice-presidente, teve mais sorte.
Seu filho era funcionário de carreira do Banco do Brasil quando foi promovido
logo no início do governo, passando a ganhar três vezes mais. O general Eduardo
Villas Boas saiu do comando do Exército direto para um cargo de assessor do
Gabinete de Segurança Institucional. E sua filha foi assessorar a ministra
Damares Alves.
O vento sopra fortemente a favor de quem veste ou vestiu
farda. Quando novembro chegar, o partido verde oliva deverá eleger um número
expressivo de prefeitos e vereadores. E daí? Nada mal se isso pudesse
significar a rendição definitiva dos militares à democracia. A prova final da
rendição está marcada para 2022 quando o benfeitor da caserna tentará se
reeleger.
Reforma tributária: por uma consulta ampla, geral e
irrestrita
Empresários dizem não a Paulo Guedes
O ministro Paulo Guedes, da Economia, pediu, ontem à noite, a empresários
do setor de serviços que pressionem o Congresso Nacional para que aprove o novo
tributo sobre transações, que deverá financiar a desoneração da folha.
Das muitas perguntas que se poderia fazer a propósito,
escolha uma, ou mais de uma:
- Se o
novo tributo fará bem a todo mundo, e não somente aos empresários, por que
Guedes não se dirige indistintamente aos brasileiros e pede que pressionem
o Congresso?
- Por
que de fato só beneficiará aos empresários?
- Por
que Economia é assunto que só deve ser discutido com quem é do ramo?
- Por
que Guedes não sabe falar uma língua que todos entendam?
- Por
que o Congresso é insensível à pressão popular, mas não é a dos donos do
dinheiro?
Descarte-se parte da última pergunta. A prorrogação do
Fundeb, o fundo que financia a educação básica, foi mais uma prova de que o
Congresso é também sensível à pressão popular. O governo é que não foi, e
tentou sabotar a prorrogação até quando não deu mais.
Aprovada a prorrogação, Bolsonaro ainda teve a cara de pau
de celebrar como se tivesse alguma coisa a ver com ela. Da mesma maneira
procedeu quando só queria conceder o auxílio emergencial de 200 reais e o
Congresso acenou com um de 500.
De volta as Guedes: os empresários do setor de serviços, alvos do apelo feito pelo ministro, se disseram radicalmente contrários ao novo tributo proposto por ele. Querem apenas a desoneração das folhas de pagamento. E segue o baile!
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