O governo de Jair Bolsonaro cruzou os braços diante da
pandemia que já matou quase 83 mil brasileiros. O presidente fez piada com o
vírus, desprezou a dor das famílias, sabotou as medidas de isolamento e forçou
a saída de dois ministros da Saúde. Depois entregou a pasta um general que
aceitou o papel de fantoche e cumpre suas ordens sem reclamar.
Ontem o Tribunal de Contas da União revelou um novo pedaço
dessa história. O governo segurou mais de dois terços da verba emergencial
liberada para combater a doença. Dos R$ 38,9 bilhões previstos, o ministério só
gastou R$ 11,4 bilhões até 25 de junho. Isso significa que 71% dos recursos
ficaram retidos nos cofres da União.
Além de não gastar o que precisa, o governo sonegou dinheiro
que deveria ser destinado a estados e municípios. Segundo o ministro Benjamin
Zymler, a auditoria concluiu que os repasses federais “não seguem nenhuma
lógica identificável”. Difícil saber se isso se deve a uma administração
caótica ou a uma retaliação a adversários políticos.
Um dado do relatório sugere a segunda hipótese. Rio de
Janeiro e Pará, que estão entre os três estados com maior taxa de mortalidade,
figuram entre os três que receberam menos verbas per capita. Coincidentemente,
seus governadores são desafetos do capitão.
O TCU também apontou problemas na comunicação oficial. Na
gestão militarizada de Pazuello, o ministério suspendeu as entrevistas que
orientavam a população e prestavam contas da ação do governo. O general ainda
se notabilizou por maquiar estatísticas, numa tentativa de esconder a escalada
de mortes no país.
O fracasso brasileiro na pandemia é uma obra coletiva.
Envolve políticos inescrupulosos, empresários oportunistas e cidadãos
indiferentes ao sofrimento alheio. Bolsonaro teve a chance de liderar um
esforço nacional contra o vírus, mas preferiu fazer guerra política e iludir os
doentes com remédio milagroso.
No futuro, a auditoria do TCU ajudará a provar sua omissão deliberada diante da tragédia. Seja no Brasil ou no Tribunal Penal Internacional.
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