O congestionamento de
candidatos do centro poderá marcar a eleição
No primeiro momento, a saída do DEM e do MDB do conglomerado
de partidos conhecido pela alcunha de Centrão tem a ver com a eleição do
próximo presidente da Câmara dos Deputados, em fevereiro do próximo ano.
Indica que DEM e MDB pretendem formar um bloco junto com o
PSDB e partidos de oposição ao governo para eleger o sucessor de Rodrigo Maia.
Ou reeleger Maia, caso se aprove uma emenda à Constituição para tornar possível
o que hoje não é.
O Centrão aliou-se ao governo atraído pela oferta de cargos,
liberação de dinheiros e outras sinecuras que o presidente Jair Bolsonaro dizia
antes abominar. Conversa para enganar eleitor. Bolsonaro já foi filiado a quase
todos os partidos do Centrão.
Está interessado, agora, em valer-se dos votos do Centrão
para barrar a abertura de um processo de impeachment contra ele, aprovar
projetos do governo e pôr no lugar de Maia um presidente da Câmara mais
confiável. Foi aí que o bicho pegou.
Num segundo momento, o racha do Centrão tem a ver com a
sucessão do próprio Bolsonaro. É remota a possibilidade do DEM e do MDB
apoiarem a reeleição do presidente. É mais do que provável que se unam ao PSDB
para bancar outro nome.
O governador João Doria (PSDB), de São Paulo, quer ser esse
nome. O combate à pandemia do coronavírus ofereceu-lhe a oportunidade de se
apresentar como um candidato de centro-direita capaz de enfrentar Bolsonaro
daqui a dois anos.
A eleição presidencial de 2022 poderá assistir a um
congestionamento de candidatos do centro – Doria, Sergio Moro, Ciro Gomes que
parece caminhar nessa direção, e quem mais aparecer. O PT agradece desde já.
Bolsonaro se preocupa.
Quanto aos partidos do Centrão de raiz, para esses tanto faz
como tanto fez. O imediato é o que importa. De resto, são sensíveis à direção
dos ventos. Sabem tirar vantagem de tudo. E, ao fim e ao cabo, sempre estarão
com o governo, qualquer um.
A boiada de Ricardo Salles passou sobre a política ambiental
Bolsonaro deu ouvidos ao ministro
Resta comprovado que o presidente Jair Bolsonaro seguiu o conselho de Ricardo
Salles, seu ministro do Meio Ambiente, e aproveitou os meses iniciais da
pandemia do coronavírus para reforçar os maus tratos à natureza, marca do seu
governo até aqui.
Um levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo em
parceria com o Instituto Talanoa mostra que, entre março e maio deste ano, o
governo publicou 195 atos no Diário Oficial, todos ligados ao tema ambiental.
Nos mesmos meses de 2019, foram apenas 16.
Na reunião ministerial de 22 de abril último, Salles sugeriu
a Bolsonaro que aproveitasse o momento em que a imprensa estava ocupada com a
pandemia para “passar a boiada”, mudando “todo o regramento e simplificando
normas” na área do meio ambiente.
E foi isso o que Bolsonaro autorizou que se fizesse como
aponta a análise inicial das principais portarias, instruções normativas,
decretos e outras normas baixadas ou alteradas. O processo de desmonte das
políticas ambientais ganhou celeridade.
A instrução normativa 4/2020 do Ministério do Meio Ambiente
(MMA), por exemplo, que trata da priorização de indenização para populações
tradicionais em reservas ambientais, criou uma brecha para facilitar a expulsão
de índios e quilombolas dessas áreas.
A portaria 432/2020 permitiu ao ICMBio centralizar a gestão
de duas unidades de conservação em Roraima, cancelando a criação de mais duas
bases avançadas. Ali, há registros recentes de invasão de garimpeiros e de
aumento da derrubada de árvores.
Os defensores do meio ambiente estão furiosos com o que aconteceu. E com razão.
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