Os militares toparam assumir o Ministério da Saúde de um
governo que nega a ciência e sabota o combate à pandemia. Agora se irritam com
quem aponta as consequências da decisão.
No sábado, o ministro Gilmar Mendes disse que o Exército
está se associando a um “genocídio” ao endossar o desgoverno na Saúde. “Isso é
péssimo para a imagem das Forças Armadas”, acrescentou.
O supremo ministro pode ter carregado no tom, mas disse uma obviedade. Ontem o
general Fernando Azevedo, ministro da Defesa, ameaçou processá-lo. Foi apoiado
pelo general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Em nota enfeitada com o brasão da República, Azevedo se
disse “indignado” com a fala de Gilmar. “Trata-se de uma acusação grave, além
de infundada, irresponsável e sobretudo leviana”, sentenciou. Os comandantes de
Exército, Marinha e Aeronáutica também assinaram o documento. Eles controlam
390 mil homens armados e não deveriam se meter em disputa política.
Desde a chegada do coronavírus, Jair Bolsonaro forçou a
saída de dois ministros da Saúde. O cargo foi entregue ao general da ativa
Eduardo Pazuello, que cumpre as ordens do chefe sem reclamar. Quando ele
assumiu a pasta, o Brasil contava 14 mil mortos na pandemia. Hoje registra
quase 73 mil. Isso significa que o Exército já se associou a um saldo de 59 mil
cadáveres.
No futuro, caberá aos tribunais e aos livros de História
dizer se o desgoverno do Capitão Corona ficará lembrado como um genocídio. A
crônica desses dias vai registrar que a gestão de Pazuello tentou maquiar
estatísticas para esconder mortes de brasileiros.
Se estivesse preocupado com a imagem das Forças Armadas, o
ministro Azevedo aconselharia o presidente a trocar o general por um médico.
Sem isso, sua nota soa como corporativismo e tentativa de intimidação.
A boa notícia do episódio está nas entrelinhas. Desta vez, os militares informaram que vão pedir à Procuradoria-Geral da República que tome “medidas cabíveis” contra Gilmar. Até a prisão de Fabrício Queiroz, as notas da caserna sugeriam uso de tanques e golpe de Estado.
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