O Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, recebeu
as acusações contra Jair Bolsonaro de crimes contra a humanidade no contexto da
pandemia. Foram levadas por entidades brasileiras que representam mais de um
milhão de profissionais da saúde, responsabilizando-o pela morte de milhares no
país por sua ação ou omissão. Matar não se limita a um tiro à queima-roupa.
Pode-se escolher entre as práticas de Bolsonaro desde a
chegada da Covid: piadas com o vírus, minimização de seu perigo, desinformação
deliberada sobre ações de prevenção, desprezo por medidas nacionais que
amenizassem a quebra da economia, recusa em aceitar as orientações dos órgãos
internacionais, instigação à desobediência dessas orientações, desmoralização
dos encarregados por ele próprio de dirigir a saúde e sua substituição por
estranhos à matéria, fazer propaganda falsa de remédio, debochar das vítimas da
doença, indiferença quanto ao destino da população que jurou proteger. Com tudo
isso ao alcance de seu poder, quem precisa de arminha?
Mas não nos iludamos. Os trâmites do tribunal são lentos e
talvez só cheguem a uma conclusão quando um dos dois já tiver acabado, o
mandato de Bolsonaro ou o Brasil –o que vier primeiro. Mas seria um consolo ver
no banco dos réus, nem que fosse por uma sentada, os responsáveis pela maior
calamidade pública na história deste país.
O que, como aconteceu em outros tribunais internacionais,
deveria reservar lugar também a executores de sua política. Isso incluiria o
general Eduardo Pazuello, que pôs a farda a serviço da farsa, estimulando o uso
de medicamento impróprio e arriscado, sonegando informações sobre a evolução da
crise, recusando-se a prestar contas diárias à sociedade e cercando-se de
colegas de quartel, talvez para dividir sua responsabilidade.
Mas, você sabe, Haia é uma cidade pacata, com seu ritmo
próprio.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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