A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde,
disse ao “Financial Times” que está comprometida com a busca de uma economia
mais verde. “Eu quero explorar todas as avenidas disponíveis para combater as
mudanças climáticas, porque, no fim das contas, o dinheiro fala.” O dinheiro
falou alto e claro ao Brasil nos últimos dias sobre a necessidade do fim do
desmatamento da Amazônia. Na resposta, o vice-presidente Hamilton Mourão teve
uma boa atitude, mas repetiu alguns velhos equívocos.
A boa atitude é receber os investidores e os empresários e
se comprometer com resultados e até, como disse ontem, adotar metas de redução
de desmatamento. Isso, se virar realidade, será uma mudança radical na atitude
do governo. Será preciso abandonar teses antiquadas.
Não leva a lugar algum repetir o argumento de que a pressão
vem de competidores comerciais do Brasil. Sim, o Brasil é um fenômeno agrícola.
Deu saltos de produtividade, desenvolveu novas tecnologias, tem água, terra,
conhecimento. Sempre haverá competidores rondando. O problema é por que um país
com imensas possibilidades facilita tanto a vida dos competidores como faz o
governo Bolsonaro? Segunda dúvida: por que destruir exatamente esse patrimônio
que nos dá vantagens competitivas?
A aliança tem que ser com o moderno agronegócio, e não com a
cadeia de crimes que grila e devasta. É irracional não reprimir essa forma
truculenta de ocupação de território e de roubo de bens públicos. É do nosso
interesse levar o país ao desmatamento líquido zero, como nos comprometemos no
Acordo de Paris. O país será o maior ganhador. Dentro do agronegócio há uma
luta entre o novo campo e a lavoura arcaica. Por atos e palavras o governo
Bolsonaro até agora fortaleceu o passado. Não farei a exaustiva lista dos erros
desta administração na área ambiental. Ela não cabe neste espaço. O aumento do
desmatamento e as queimadas falam por si.
É um tiro no pé levar o ministro Ricardo Salles para a
conversa e ainda fortalecê-lo no cargo. Só se engana com ele quem jamais se
aprofundou no tema. Mourão tem tudo para entender profundamente. Morou na
Amazônia, viajou na floresta por terra, ar e rios. Em algum ponto do Rio Negro
deve ter sentido a força da floresta em pé. Salles é um equívoco. Os financiadores
sabem disso. Os empresários atualizados, também.
O vice-presidente convidou os investidores a financiarem a
conservação na Amazônia. Mas foi este governo que acabou com o principal
instrumento, o Fundo Amazônia, pelo qual dois países amigos, a Noruega e a
Alemanha, deram dinheiro ao Brasil. O dinheiro foi usado para financiar
políticas públicas. O que os doadores do Fundo pediam? Governança. Que o
Conselho representasse a sociedade, os governos estaduais, a ciência e não
apenas o governo federal. Salles desmontou o conselho. Fez outro que só tinha
Brasília, não tinha Brasil.
Mourão acertou quando falou em resultados e metas. Só que
não pode ser para inglês ver. E para ser real é preciso entender algumas
coisas: o Ibama e ICMBio já estavam sem recursos, mas foi o atual governo que
os atacou de forma implacável. Os incêndios na Amazônia são majoritariamente
criminosos, feitos por grileiros para eliminar o resto de vegetação que fica
após o desmatamento. Isso não é palpite. Existem imagens de satélite que podem
recuar no tempo e apagar as dúvidas que ainda existam. Não se trata de
enfrentar a “narrativa”. E sim de encarar os fatos.
O dinheiro está pressionando por uma economia mais verde
porque de repente passou a ter princípios? Não. Porque os fundos reagem à
pressão dos seus stakeholders, de todos os envolvidos no negócio. O consumidor
pressiona a empresa, que cobra do investidor, que quer saber do fundo se há
forma de rastrear o produto. E, na dúvida, o país é vítima de boicote. Os
empresários brasileiros ontem disseram que já sentem a queda dos aportes
estrangeiros.
O ministro das Comunicações não sabe que a floresta amazônica fica na Amazônia. O ministro do Meio Ambiente nunca tinha visitado a floresta quando assumiu o cargo. O governo pode continuar cometendo erros grosseiros ou entender a gravidade do assunto. Este governo tem horror a ambientalista. Tá ok, entendi. Mas agora é o capital que está falando. É melhor ouvir.
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