Quem vai pagar a conta da reforma tributária? Não temos nem
estimativa, pois não há um projeto coerente e crível, se por mais não fosse
porque o governo federal diz que vai enviar suas propostas de modo “fatiado”,
ao que parece até o final do ano. Se a reforma andar, será uma mistura de
projetos de mudança “ampla” que circulam um na Câmara, outro no Senado, que
podem incorporar ou não ideias do Ministério da Economia.
Um objetivo maior de Paulo Guedes é reduzir o quanto puder
dos impostos sobre a folha de pagamentos, como se sabe, perda de receita que
seria financiada por um imposto qualquer sobre transações ou “pagamentos
digitais”, não se sabe bem do que se trata.
Essa CPMF fantasiada, ideia fixa de Guedes, seria a última
fatia do salame tributário do governo a ir ao Congresso, até para não
atrapalhar a discussão do restante das mudanças, pois esse imposto pega mal.
Hum.
Não é possível fazer uma conta do tamanho da carga
tributária, de como os tributos vão pesar sobre cada tipo de empresa ou sobre
pessoas físicas e das distorções econômicas decorrentes, sem saber dessa CPMF,
com a qual o governo quer arrecadar pelo menos o equivalente a 1% do PIB.
Claro que a conta de uma reforma “ampla” depende de saber do
destino de vários outros impostos. O problema específico dessa CPMF ou similar
é que a ideia embaralha ainda mais o jogo político e econômico complicadíssimo
de qualquer reforma tributária e, logo de cara, prorroga tal confusão até o
final do ano ou quando for que o governo mande seu plano.
Logo, ao menos por enquanto, há a possibilidade de que as
ideias de Guedes sejam ignoradas ou que causem tumulto no Congresso. Por
exemplo, o setor de serviços teme pagar mais impostos com a reforma tributária
(vai pagar, se houver qualquer reforma razoável). A fim de evitar essa conta,
propõe uma CPMF ou similar de peso muito maior que o sugerido informalmente
pelo governo. A indústria é contra.
Há possíveis rolos ainda maiores, como mexer no ICMS e no
ISS, de estados e municípios, respectivamente, uma simplificação tributária
que, politicamente, demanda que a União pague uma compensação a governos
subnacionais. Guedes não quer bulir com isso. No entanto, o ICMS é o imposto
mais pernicioso do país.
A julgar pela sua atuação política, Guedes parece mais
preocupado em fazer uma reforma trabalhista terminal, uma desregulamentação
“ampla” das leis do trabalho e a desoneração geral, se possível (não é), dos
impostos sobre a folha. Em cada discussão importante, Guedes embute o tema da
desoneração da folha e da reforma trabalhista. Para dar outro exemplo, o plano
desse Renda Brasil é acoplado a uma mudança na lei do trabalho.
Pouca gente discorda do plano de simplificar a cobrança e o
pagamento de impostos no país. Há muito mais divergência sobre a uniformização
do peso dos tributos sobre cada setor empresarial, o que diminuiria distorções
no funcionamento do mercado, mas deve aumentar a conta de algumas empresas e
diminuir a de outras.
Dá-se de barato que a reforma tributária não vai elevar ou reduzir a carga tributária. Disso não sabemos agora e pelo jeito não vamos saber tão cedo, dada a balbúrdia na definição de um projeto básico. Sem estimativas claras de perdas ou ganhos e sem uma projeção de como fica a carga, será difícil avaliar seus benefícios e será mais fácil para lobbies setoriais defenderem sua posição, seus privilégios, que é um dos motivos da baderna tributária brasileira.
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