A realidade e os fatos vão para um lado, a popularidade do
presidente Jair Bolsonaro vai para o outro, confirmando que a propaganda é a
alma do negócio e que o grande desafio dos governantes em processo de reeleição
não é dar bons exemplos, agir estrategicamente e tomar as decisões mais
adequadas ao País, mas manter um eleitorado cativo, cooptar o indeciso e atacar
sem piedade qualquer tipo de opositor.
Não importam os princípios, importa o que bate diretamente
no bolso. Não importam os fatos, importam as versões. Os esquemas da família
Bolsonaro, de rachadinhas, funcionários fantasmas e do vício de pagar em
dinheiro vivo escola, plano de saúde e até apartamentos não têm efeito na
popularidade nem na rejeição do presidente. Diminui daqui, soma dali, o
resultado é que Jair Bolsonaro continua sendo o único candidato à Presidência
em 2022 e está em ascensão.
Também não interessa o desempenho trágico do presidente no
combate ao coronavírus, que até aqui matou perto de 110 mil brasileiros. Como
não importam o desmanche do Ministério da Saúde, a disparada das queimadas na
Amazônia, o desdém pelo meio ambiente, o abandono da Educação, a exclusão da
cultura da pauta nacional e a política externa desastrosa. Sergio Moro, Lava
Jato e órgãos de combate à corrupção? Já vão tarde. Quem está interessado
nisso? Em Polícia Federal? Coaf? Receita? PGR? Só essa mídia “esquerdista”,
“petista”, para desmistificar o “mito”. O “povo” tem mais o que fazer e com o
que se preocupar.
Igualmente pouco importa se Bolsonaro assassinou as
promessas de campanha e voltou à “velha política” e ao Centrão. Os
bolsonaristas raiz, de memória curta, continuam fiéis e o número de desgarrados
é compensado nas pesquisas por outro tipo de rebanho: o dos que precisam do
Estado para sobreviver, até para comer. Para esses, não interessa se Bolsonaro
apenas cedeu ao Congresso, mas sim que é ele quem distribui os R$ 600 e o
socorro a empresas.
Além desse fator objetivo, que muda a percepção no Nordeste
e entre os desempregados e os que ganham até dois salários mínimos, houve
também uma guinada estratégica que estancou a sangria na classe média e entre
os escolarizados: Bolsonaro parou de prejudicar Bolsonaro. Pôs de lado a
metralhadora giratória contra tudo e todos, saiu das manchetes e reverteu a
curva: deixou de cair, passou a subir.
Portanto, a nova pesquisa Datafolha, apurando que Bolsonaro
atingiu o melhor índice de aprovação desde a posse – 37% – e reduziu sua
rejeição em dez pontos porcentuais – para 34% – pode ter definido dois jogos
internos no governo: a favor de estourar o teto de gastos para vitaminar a
campanha do presidente e, portanto, contra Paulo Guedes.
Se Rogério Marinho, Tarcísio de Freitas e o time militar têm
o Datafolha para convencer Bolsonaro de que gastança garante reeleição, o que
Guedes tem para contrapor? Um crescimento econômico pífio em 2019, antes da
pandemia, e… mais nada. Ah! Mas foi o presidente quem atrapalhou a reforma tributária
e vetou a administrativa! Ok, é verdade. Mas quem quer saber da verdade, se a
versão bolsonarista é que importa?
Moro foi dormir ídolo e acordou Judas, Luiz Henrique
Mandetta era um poço de popularidade e secou, o general Santos Cruz era líder e
virou uma ilha entre militares. Guedes pode ir se preparando. Os “gabinetes do
ódio” (no plural) não atuam só contra críticos e esquerdistas, mas para apagar
a verdade e massificar versões e fake news. As pesquisas depois colhem o
resultado. Descobrem, por exemplo, que Bolsonaro não tem nada a ver com as 106
mil mortes!!! Bolsonaro e bolsonaristas vão muito bem. Não se pode dizer o
mesmo do Brasil e dos brasileiros.
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