Apelar para teorias conspiratórias é uma arma usada
frequentemente para desacreditar adversários, até mesmo governos.
Alguns exemplos mais recentes de teorias conspiratórias são os seguintes:
Alguns exemplos mais recentes de teorias conspiratórias são os seguintes:
• O governo americano oculta até hoje a existência de discos
voadores que trouxeram seres extraterrestres para nosso planeta.
• O lançamento de astronautas à Lua em 1969 foi uma montagem
de Hollywood e nunca houve voos espaciais.
• O atentado terrorista que destruiu as torres gêmeas em
Nova York, em 11 de setembro de 2001, foi orquestrado pelo serviço secreto
americano para justificar a “guerra ao terror” e a invasão do Iraque e do
Afeganistão.
• O assassinato de John F. Kennedy foi promovido pelo
governo de Cuba ou por grupos políticos americanos preocupados com as políticas
liberais do presidente, e não por um assassino isolado como Lee Oswald.
Característica comum de todas elas – por mais inverossímeis
que pareçam – é que são baseadas em suposições que contrariam os fatos ou a
compreensão dominante dos eventos históricos e são imunes a argumentos
racionais: uma verdadeira questão de fé. Só para dar um exemplo, existem
estimativas do número de pessoas que teriam de fazer parte da conspiração de
que o homem não pousou na Lua: cerca de 400 mil, contando os cineastas
envolvidos, técnicos da Nasa, jornalistas e políticos de todo tipo e outros.
As origens das teorias conspiratórias são predominantemente
psicológicas ou políticas. As psicológicas decorrem do fato de que para algumas
pessoas a insegurança diante de eventos catastróficos é tal que as leva a criar
paranoias conspiratórias. As políticas são mais concretas e têm que ver com
vantagens políticas ou econômicas.
Um problema de natureza ambiental que foi objeto de teorias
conspiratórias é o uso da fluoretação da água para reduzir a carie dentária,
que é adotada em todos os países, mas ainda é contestada por alguns grupos como
uma trama para dominar o mundo, provocar esquizofrenia e outras doenças. Afora
isso, proteção ambiental em nível local e regional (basicamente para garantir
qualidade do ar e da água) nunca foi contestada por teorias conspiratórias.
Lamentavelmente, porém, problemas ambientais globais como o aquecimento da
Terra e a proteção das florestas tropicais têm sido vítimas frequentes desses
ataques.
Os que nos afetam mais de perto são os que dizem respeito à
Região Amazônica. Esse é um problema antigo, começou na década dos 70 do século
20, quando a “ocupação” da Amazônia por colonos vindos do sudeste do País se
tornou a política pública dominante para garantir a soberania nacional sobre
aquela área, o que levou ao desmatamento da floresta. “Ocupar para não
entregar” era o mote vigente, que tinha componentes de paranoia.
Participei em 1991, como secretário especial de Meio
Ambiente da Presidência da República, de reuniões com outros membros do governo
(ministros do Exército e da Justiça) que manifestavam, na época, preocupações
com propostas de criação de uma área protegida internacionalmente na Amazônia
para assegurar a sobrevivência dos ianomâmis, no extremo norte do Brasil.
Perguntei qual era a origem dessa informação, que eu
ignorava, apesar de participar intensamente de todos os preparativos
internacionais da Conferência sobre o Clima que se realizaria em dezembro de
1992 no Rio de Janeiro.
A informação que recebi era baseada num panfleto distribuído
aos passantes no aeroporto de Houston, nos Estados Unidos, preparado por alguma
obscura organização ambientalista americana. No aeroporto de Houston
distribuíam-se panfletos de toda espécie. A fragilidade da informação era tão
óbvia que o assunto foi abandonado.
Passados 30 anos, esse tipo de paranoia volta a circular em
altas esferas do governo, apesar de não haver nenhuma evidência concreta de
interferência na soberania nacional sobre a Amazônia. O que há são governos
interessados nos problemas ambientais mundiais, como a Noruega e a Alemanha,
que se ofereceram para ajudar financeiramente na implementação de programas do
governo brasileiro na região que protejam a floresta. Imaginar que isso faça
parte de um complô para nos tirar a Amazônia está claramente na categoria de
teoria conspiratória.
Não há nenhuma ameaça estrangeira à nossa soberania sobre a
Amazônia. A ameaça vem daqueles que não obedecem às leis em vigor e enfraquecem
o poder do Estado.
Somente recursos do exterior não resolveriam todos os
problemas do desmatamento nessa região, onde a carência fundamental é a
ausência do poder público, como ocorre também nas favelas da Baixada Fluminense
e do Rio de Janeiro dominadas pelo tráfico.
O fortalecimento do Ibama e a implementação gradativa da
legislação fundiária é que levariam a cercear a ação dos “grileiros” e
desmatadores da região. A crescente produção agrícola e de carne no País não
necessita desse desmatamento predatório e da retirada clandestina de madeira.
Há melhores métodos de utilizar a floresta.
*Professor emérito da USP, foi ministro do Meio Ambiente
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