A debandada na equipe econômica transformou Paulo Guedes num
ex-superministro. O fenômeno já havia ocorrido com Sergio Moro, que acreditou
ter carta branca e foi esvaziado até deixar o governo. Agora se repete com o
fiador do bolsonarismo junto ao mercado.
No mesmo dia, abandonaram o barco os secretários de
Desestatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Paulo Uebel. Eles
reclamaram que as privatizações e a reforma administrativa não saem do papel. O
principal motivo é a falta de interesse do capitão.
Na campanha, Guedes garantiu que Bolsonaro havia se
convertido ao ultraliberalismo. Logo ele, que pregou o fuzilamento de Fernando
Henrique Cardoso por causa do leilão de estatais. O ministro anunciou um plano
radical de redução do Estado. Em um ano e meio, não entregou quase nada do que
prometeu.
Algumas de suas propostas, como zerar o deficit público em
um ano e arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de imóveis públicos, sempre soaram
como anúncios de terreno na Lua. Acreditou quem quis.
Além de vender ilusões, Guedes criou múltiplas frentes de
atrito. Ele brigou com o presidente da Câmara, chamou servidores de
“parasitas”, ofendeu pobres que deixaram de viajar após a disparada do dólar. É
inesquecível a sua fala sobre os tempos do real valorizado. “Empregada
doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada… Pera aí!”, ironizou.
A pandemia desmontou de vez a fantasia do governo
ultraliberal. Vendo sua reeleição em risco, Bolsonaro deixou de se aconselhar
no Posto Ipiranga. Sem combustível, Guedes perdeu espaço para ministros que
defendem o aumento do gasto público, como seu ex-assessor Rogério Marinho.
Agora vê outros auxiliares fazendo as malas para fugir de Brasília.
Ao confirmar a debandada na equipe, o titular da Economia
jogou pesado. Acusou colegas de induzirem o chefe a “pular a cerca” da
responsabilidade fiscal. “Vão levar o presidente para uma zona sombria, uma
zona de impeachment”, dramatizou. Ontem o capitão ensaiou uma defesa protocolar
da austeridade. Mas quem bancava essa agenda já perdeu a aura de superministro.
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