O papa Francisco, o próximo presidente americano, Joe Biden, a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, o seu marido, príncipe Phillips, e até o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, que já teve a doença, estão se vacinando ou já anunciaram que vão se vacinar contra a covid-19, dando exemplo para os cidadãos de seus países e para o mundo. E o presidente Jair Bolsonaro?
A pandemia não está no “finalzinho”, como ele chegou a dizer quando o vírus voltou a disparar em dezembro, e as vacinas são a única salvação contra seus efeitos assustadores no número de mortos, contaminados, desempregados e empresas quebradas. A última vítima, muito doída, foi a montadora norte-americana Ford, que foi a primeira indústria automobilística a se instalar no Brasil, em 1919, e abandona o País depois de mais de cem anos.
Em comunicado, a empresa alegou que a covid-19 “amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”. Ou seja: a covid-19 não é a única causa da debandada, mas potencializa o custo Brasil, a falta de segurança jurídica, a desordem tributária, as reformas estruturais que nunca vêm, a crise fiscal que se eterniza, as promessas que não são cumpridas e, como frisou o deputado Rodrigo Maia pelas redes, “a falta de credibilidade do governo brasileiro”. E a Ford joga a toalha justamente quando o Brasil se debate na turbulência das vacinas.
Nem mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff, campeã de pérolas, como a mandioca, o cachorro, a “mulher sapiens”, a estocagem do vento e dobrar uma meta sem meta, faria melhor que o general Eduardo Pazuello. Dilma anunciou um programa sem meta e prometeu que, assim que tivesse meta, dobraria essa meta. Pazuello faz tudo o que seu mestre mandar, ataca a mídia e, firme, resoluto, define com precisão que as vacinas vão começar “no dia D, na hora H”. Puxa!
Enquanto EUA, Reino Unido, Canadá, Alemanha, México, Chile, Argentina, Costa Rica e uma fila enorme de países vão vacinando suas populações, no Brasil estamos empacados tanto no “dia D”, que já foi em março, depois fevereiro, depois dezembro e agora pode ser janeiro, ou fevereiro, quanto na “hora H”, que pode ser qualquer uma, desde que Bolsonaro e o ministro da Saúde vacinem o primeiro brasileiro antes do governador João Doria. Para Bolsonaro, que manda, e Pazuello, que obedece, o importante não é vacinar, é vacinar primeiro; não é ter doses para todos, basta uma única dose para a foto.
O problema é que até agora, meados de janeiro, só há uma vacina disponível para ser aplicada no Brasil: a Coronavac. Parte chegou em lotes já prontos da China, outra parte em forma de insumos para o nosso Butantã processar. Assim, a guerra entre Bolsonaro e Doria desabou numa corrida desenfreada entre a Coronavac e a Oxford-AstraZeneca, que, para driblar a falta de doses no Brasil, encomendou às pressas dois milhões à Índia. Não faz nem cosquinha numa população de 210 milhões de habitantes, mas é o suficiente para atropelar a “vacina do Doria”, ou “da China”. E a Anvisa dita o ritmo da corrida…
Bolsonaro olha ao redor, pressiona pelo “dia D”, fica de olho na “hora H” e avalia em que momento vai jogar suas culpas macabras em Pazuello, na mídia, na indústria, nos governadores e no Doria. Ele não quer saber de eficácia de vacina, só do efeito dos atrasos e da incompetência na sua imagem, popularidade e reeleição.
Logo, o importante não é vacinar para salvar vidas e conter a pandemia. É ter uma vacina para se imunizar contra a própria culpa e responsabilidade e continuar contaminando aquele terço da população que pode até não tomar vacina, mas engole tudo o que Bolsonaro fala e faz.
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