Presidente eleito indica para a área sanitária nomes que
defendem ideias malucas e sem sustentação na ciência
Dois nomes que Donald Trump já
anunciou para a área da saúde são os
de Robert
F. Kennedy Jr., para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, e
o de Mehmet
Oz, para comandar o Medicare e o Medicaid, os programas públicos de
cobertura de saúde dos EUA.
Se as duas indicações vingarem e os futuros administradores
conseguirem emplacar algumas de suas ideias, a saúde pública nos EUA, que já é
provavelmente a pior entre os países ricos, deverá sofrer ainda mais reveses.
Kennedy Jr. é contra vacinas, contra a pasteurização do
leite, contra a fluoretação da água e abraça quase todas as teorias
conspiratórias envolvendo laboratórios farmacêuticos.
Mehmet Oz não vai tão longe. Ele é a favor de vacinas e
defendeu o uso de máscaras na pandemia, mas também propagandeou cloroquina e
outros tratamentos inefetivos. Em seu programa de TV, já promoveu
"remédios alternativos", além de medicina paranormal
e curas baseadas na fé.
Se as sandices proferidas por Kennedy Jr. ainda podem ser
explicadas pelo véu da ignorância (ele é advogado), Oz não tem essa desculpa.
Ele é médico, formado por Harvard (BA) e UPenn (MD). Lecionou em Columbia. Num
mundo funcional, deveria rezar pela cartilha da medicina baseada em evidências.
Como proteger a saúde pública de ideias malucas? Em teoria,
a resposta é simples. As políticas sanitárias, a exemplo de outras políticas
públicas, não são resultado das preferências de governantes e autoridades
isoladas mas sim de deliberações de diferentes esferas de poder, que precisam
seguir trâmites formais e pelo menos ouvir especialistas. É o famoso sistema de
freios e contrapesos. Falando sempre em tese, Kennedy Jr., se de fato galgado
ao posto, não deveria ser capaz de acabar com os programas de vacinação,
por exemplo.
No primeiro mandato de Trump, esse sistema sofreu, mas não
pereceu. Nem o presidente conseguiu emplacar todos os seus devaneios
sanitários, que incluíam injetar desinfetante na corrente sanguínea de
pacientes de Covid. Vamos ver se a saúde pública aguenta o segundo round.
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