domingo, 17 de novembro de 2024

TRUMP RECHAÇA MODERAÇÃO AO COMPOR SUA EQUIPE

Editorial Folha de S. Paulo

Nomes anunciados até agora foram escolhidos não por qualificação técnica ou política, mas por lealdade a bandeiras radicais

O americano Donald Trump começou a cumprir promessas de campanha, como se nota pelas indicações para o primeiro escalão do governo da maior potência do planeta.

Os escolhidos até aqui demonstram lealdade ao presidente eleito, propensão a causar ruptura na administração e escassa associação com a comunidade de estudiosos dedicados a políticas públicas ou mesmo com o que resta do antigo Partido Republicano.

Alguns indicados espantaram até parlamentares governistas —o Senado precisa aprovar várias das nomeações.

Dos postos mais importantes, falta indicar o secretário do Tesouro. Para o Departamento de Estado vai o senador Marco Rubio, sinal de linha dura com governos de esquerda, na América Latina em especial. Para o Conselho Nacional de Segurança, o deputado Michael Waltz, coronel que já foi assessor na Casa Branca e no Pentágono.

Ambos querem confrontar a China e livrar os EUA de compromissos com a defesa da União Europeia e da Ucrânia, com a Otan ou com aliados asiáticos.

A escolha mais controversa é a do ex-deputado Matt Gaetz, cuja carreira é marcada por acusações de irregularidades, para o Departamento de Justiça. Autointitulado populista libertário e dado a confrontações escandalosas com a esquerda, pode até ser vetado por republicanos do Congresso.

Para a Defesa foi indicado Pete Hegseth. Apresentador da Fox News, sem experiência em governo, ex-militar de média patente, é propagandista de causas trumpistas mais radicais.

Tulsi Gabbard, de trajetória errática, foi nomeada diretora da Inteligência Nacional, a supervisão das agências de espionagem. Em 2016, ela apoiou a candidatura presidencial do esquerdista Bernie Sanders. Foi deputada e pré-candidata democrata a presidente. Aderiu oficialmente aos republicanos em 2024.

Um dos nomes mais alarmantes na equipe de Trump é Robert F. Kennedy Jr., ex-democrata, advogado, ambientalista, candidato independente a presidente neste ano. Futuro titular da Saúde, é antivacina, contra o flúor na água, propaga mitos científicos e critica o lobby de empresas.

O multibilionário Elon Musk vai se dedicar à eficiência do governo, mas se desconhece em que cargo ou com qual autoridade. Promete desregulamentação e o corte de nada menos que um terço do gasto federal americano.

O número estapafúrdio dá sinal das ambições desorientadas de Trump. Os auxiliares escolhidos por lealdade à causa derrubam esperanças de moderação.

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