Qualidade das praias caiu ao pior nível desde 2016, é
preciso expandir saneamento e conter ocupação urbana desenfreada
A chegada do verão, em 21 de
dezembro, trouxe consigo uma má notícia para o litoral brasileiro: a qualidade
de suas praias caiu ao pior nível já registrado desde 2016, quando
esta Folha iniciou o levantamento.
O
mapa catalogou a balneabilidade de 861 praias em 14 estados, e apenas 258
estiveram próprias durante todas as medições deste ano; ou seja, foram
consideradas "boas". A série histórica contempla 8 dos últimos 9 anos
—a exceção é 2020, cujas aferições foram prejudicadas em razão da pandemia de
Covid-19.
Em um momento em que turistas começam a se espalhar pelos
mais de 7.300 km da costa nacional, é preocupante observar que, em 2016, 384
dessas mesmas praias eram consideradas adequadas o ano todo para banho —ou 44%
do total, ante 30% neste ano.
A pesquisa segue normas federais. Um trecho é considerado
próprio se não tiver registrado mais de 1.000 coliformes fecais para cada 100
ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores. Além das 258
consideradas "boas", há as "regulares" (311),
"ruins" (146) e "péssimas" (146).
Símbolo da orla carioca, o Leblon, em um dos seus trechos,
recebeu a classificação "ruim", assim como em 2023. Já Morro de São
Paulo, badalado balneário no sul da Bahia, registrou piora em duas praias: de
"boas", passaram para "ruim" (imprópria para mais de 25%
das medições) e "péssima" (imprópria em mais da metade dos testes) em
2024.
A ocupação desordenada de áreas litorâneas —seja de favelas
em morros, encostas e manguezais, ou mesmo por resorts e condomínios de alto
padrão à beira-mar— pode ser um dos motivos para a piora nesses dados.
O lançamento de esgoto sem tratamento em rios, canais e no
próprio mar é a principal causa de contaminação. Esse cenário pode
se agravar com o descarte irregular do lixo, o despejo inapropriado de
águas pluviais e o uso intensivo das faixas de areia.
A má qualidade da água traz graves impactos ambientais, com
prejuízos ao ecossistema, ao comprometer a cadeia alimentar; na saúde, ao ampliar
o risco de infecções e doenças gastrointestinais ou de pele; e econômicos, por
afastar visitantes em regiões dependentes do turismo.
O futuro sustentável de um dos litorais mais belos do
planeta dependerá da extensão urgente da rede de saneamento básico,
e as
concessões ao setor privado podem ser um alento nesse sentido, mas também
do combate às construções irregulares e à especulação imobiliária —e, por que
não, da educação ambiental de turistas e moradores.
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