segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

BANHO DE MAR EXIGE CUIDADO EXTRA NESTE VERÃO

Editorial Folha de S. Paulo

Qualidade das praias caiu ao pior nível desde 2016, é preciso expandir saneamento e conter ocupação urbana desenfreada

A chegada do verão, em 21 de dezembro, trouxe consigo uma má notícia para o litoral brasileiro: a qualidade de suas praias caiu ao pior nível já registrado desde 2016, quando esta Folha iniciou o levantamento.

O mapa catalogou a balneabilidade de 861 praias em 14 estados, e apenas 258 estiveram próprias durante todas as medições deste ano; ou seja, foram consideradas "boas". A série histórica contempla 8 dos últimos 9 anos —a exceção é 2020, cujas aferições foram prejudicadas em razão da pandemia de Covid-19.

Em um momento em que turistas começam a se espalhar pelos mais de 7.300 km da costa nacional, é preocupante observar que, em 2016, 384 dessas mesmas praias eram consideradas adequadas o ano todo para banho —ou 44% do total, ante 30% neste ano.

A pesquisa segue normas federais. Um trecho é considerado próprio se não tiver registrado mais de 1.000 coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores. Além das 258 consideradas "boas", há as "regulares" (311), "ruins" (146) e "péssimas" (146).

Símbolo da orla carioca, o Leblon, em um dos seus trechos, recebeu a classificação "ruim", assim como em 2023. Já Morro de São Paulo, badalado balneário no sul da Bahia, registrou piora em duas praias: de "boas", passaram para "ruim" (imprópria para mais de 25% das medições) e "péssima" (imprópria em mais da metade dos testes) em 2024.

A ocupação desordenada de áreas litorâneas —seja de favelas em morros, encostas e manguezais, ou mesmo por resorts e condomínios de alto padrão à beira-mar— pode ser um dos motivos para a piora nesses dados.

O lançamento de esgoto sem tratamento em rios, canais e no próprio mar é a principal causa de contaminação. Esse cenário pode se agravar com o descarte irregular do lixo, o despejo inapropriado de águas pluviais e o uso intensivo das faixas de areia.

A má qualidade da água traz graves impactos ambientais, com prejuízos ao ecossistema, ao comprometer a cadeia alimentar; na saúde, ao ampliar o risco de infecções e doenças gastrointestinais ou de pele; e econômicos, por afastar visitantes em regiões dependentes do turismo.

O futuro sustentável de um dos litorais mais belos do planeta dependerá da extensão urgente da rede de saneamento básico, e as concessões ao setor privado podem ser um alento nesse sentido, mas também do combate às construções irregulares e à especulação imobiliária —e, por que não, da educação ambiental de turistas e moradores.

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