segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

FORÇA BRUTA MARCA A POLÍTICA INTERNACIONAL E 2024

Editorial Folha de S. Paulo

Mortandade por conflitos saltou 37%, com espiral de violência na Ucrânia e no Oriente Médio; retorno de Trump preocupa

Em uma tendência visível desde o começo desta década, o ano que chega ao fim foi marcado por mais emprego da força bruta no mundo, tanto nas relações internacionais como em desdobramentos de crises políticas domésticas.

Sem surpresa, como indicou o prestigioso Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londresa mortandade por conflitos teve um salto de 37%. O aumento foi impulsionado pelo massacre israelense na Faixa de Gaza, uma guerra iniciada pela covardia dos terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023.

Israel buscou não só a justa punição mas dar um basta à pressão exercida pelo Irã por meio de seus prepostos. O Hamas foi reduzido a uma força de guerrilha, e o Hezbollah, desmantelado.

Mesmo Teerã, a despeito de toda sua retórica belicista, recuou de uma guerra total, não menos porque Tel Aviv tem a iniciativa, mas suas armas são americanas.

O fim do ano ainda reservou uma notícia alvissareira no conteúdo, a derrubada do regime sanguinário de Bashar al-Assad na Síria, mas preocupante na forma: a força motriz do evento é um grupo radical que tenta fingir que não nasceu da Al Qaeda.

Caberá à Turquia, que entrou no jogo apoiando os rebeldes, fazer valer a moderação. O país, por sinal, segue em sua expansão por meio de força, como já havia feito em 2023 ao respaldar a guerra do Azerbaijão contra os armênios que se achavam protegidos pela Rússia —assim como Assad.

Potência nuclear, o país de Vladimir Putin segue no centro dos temores globais desde a invasão da Ucrânia, em 2022. O autocrata teve um ano de vitórias no campo de batalha, pressionando Kiev. Em casa, viu seu mais vocal adversário, Alexei Navalni, definhar e morrer na cadeia.

Já os ucranianos fizeram uma custosa e inútil invasão do sul russo. A autorização dada por EUA e aliados para que eles usem suas armas contra o território inimigo até aqui só fez piorar a violência da retaliação de Moscou.

O recurso à truculência grassou em locais menos visíveis na geopolítica global, do Sudão em conflitos internos à Venezuela de Nicolás Maduro —cuja fraude eleitoral conseguiu alienar até o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sempre disposto a adular ditadores amigos.

Até a Coreia do Sul viu seu presidente tentar um autogolpe. Hoje, porém, a próspera nação asiática é uma sólida democracia, cujos fundamentos impediram o candidato a tiranete.

Esse cenário conturbado aguarda 2025 e seu evento de abertura: a volta de Donald Trump à Casa Branca. A julgar pelo primeiro mandato, o Oriente Médio pode esperar mais turbulência.

Já a Ucrânia terá de negociar com Putin, uma vitória na prática da "manu militari". O embate político mais duro dos EUA com a China soa incontornável, e a guerra comercial prometida por Trump chegará a todo o mundo, inclusive suas franjas, onde está o Brasil. Dias difíceis estão à frente.

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