segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

DECISÃO NÃO ESTRANGULA CONGRESSO, MAS O MANTÉM NAS CORDAS

César Felício, Valor Econômico

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino de manter suspensa a liberação de emendas parlamentares, com exceção das empenhadas até 23 de dezembro e das destinadas à Saúde, deve sedimentar na Câmara dos Deputados a convicção de que o magistrado é funcional ao Palácio do Planalto, mas tende a garantir às lideranças parlamentares o mínimo para a sobrevivência: preserva os acordos feitos na reta final da votação das propostas de ajuste fiscal apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O ofício assinado pelos líderes da Câmara no dia 12 de dezembro pedia a liberação de recursos para pagamentos emendas de comissão, ou seja, não impositivos, em uma soma que atingia R$ 4,2 bilhões. Ocorre que essas emendas não eram "de comissão", mas sim ferramentas do desde 2021 proscrito orçamento secreto, manejadas por 17 líderes de bancada, coordenados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A patranha foi denunciada pela bancada do Psol em uma petição a Dino, que a acatou- e aqui vai o detalhamento essencial- não imediatamente, mas no dia 23 de dezembro. Entre o dia 12 e o 23 houve as votações de interesse do Planalto.

Sabe-se que até o dia 26 de dezembro haviam sido empenhados R$ 11,05 bilhões dos R$ 15,5 bilhões autorizados no Orçamento para as emendas de comissão, ou RP-8. Os dados são do sistema SIGA, que monitora o Orçamento, disponíveis no site do Senado e autalizados até 26 de dezembro. Valores para a Câmara e o Senado.

Grande parte das emendas já havia sido empenhada, ou comprometida no Orçamento. O que Dino fez entre 23 e 29 desse mês foi bloquear pagamento de recursos, empenhados ou não. Com a decisão desse domingo, a interdição segue apenas para o que não foi empenhado.

O ministro manteve o funcionamento vital do sistema, mas não tirou Arthur Lira e seu colégio de líderes aliados da mira, ao manter o pedido de investigação da Polícia Federal sobre o pagamento das emendas. O atual presidente da Câmara corre o risco de ficar a salvo depois da passagem do cargo para Hugo Motta (Republicanos-PB). O Judiciário iniciará o ano mantendo o Legislativo contra a parede e sendo, por tabela, fiador do Executivo. De quebra ainda está em suas mãos avançar ou não nos processos contra o principal líder da oposição.

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