Desde que voltou ao poder, petista deu poucas
demonstrações de que tema seria tabu
Nas primeiras semanas de governo, Lula confidenciou
a um amigo que teria
que passar por uma cirurgia no quadril. O presidente sentia as dores de uma
artrose desde a campanha eleitoral e vinha passando por sessões de infiltração
às escondidas. Decidira, no entanto, adiar a operação e o processo de
recuperação por uma questão de imagem.
Aos 77 anos, Lula confessou naquela conversa que não
gostaria de deflagrar questionamentos sobre sua idade. Ele reconheceu
aquelas razões oito meses depois, quando resolveu fazer a cirurgia.
"Eu queria operar logo depois das eleições, mas
eu falei: ‘Bom, se operar agora, vão dizer que o Lula está velho, ganhou as
eleições e já está internado’."
O tópico da idade é uma preocupação pública
de Lula. Em diversas declarações desde que voltou ao poder, o presidente citou
esse fator como escala ao declarar seu vigor para governar. Ainda que o tema
seja alvo frequente de exploração política além dos limites da sordidez, o
petista deu poucas demonstrações de que trataria a questão como tabu.
A internação
deste mês de dezembro pode não mudar muita coisa, mas força o assunto
a ser tratado com mais naturalidade, mesmo dentro do governo. Ministros que
despacham diariamente com o presidente admitem que já se adaptaram à rotina de
um Lula que não tem, é claro, a mesma energia de 20 anos atrás. O petista
terceirizou decisões e negociações a que se dedicava com desenvoltura nos dois
mandatos anteriores.
Uma das consequências práticas foi o aumento gradual e
contínuo da influência interna do ministro Rui Costa. Na
avaliação de petistas, esse processo tende a se aprofundar, provocando a
repetição de atritos entre o chefe da Casa Civil e outros integrantes do
primeiro escalão, em especial Fernando
Haddad (Fazenda).
No foro eleitoral, o próprio Lula não parece ter interesse
em ignorar o aspecto idade, motivado por um cálculo político puro. Confidente
do petista, o senador Jaques Wagner resumiu um
raciocínio que leva em conta esse elemento: se o presidente estiver
"nadando de braçada" em popularidade, Lula tenderia a abrir caminho
para a renovação no PT em vez de
disputar a reeleição.
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